Um grande número de
jovens pentecostais está descobrindo o calvinismo. Eles estão fascinados com as
pregações de John Piper e Paul Washer; estão devorando livros de Spurgeon e
Jonathan Edwards; estão participando de seminários, cursos e palestras sobre
teologia reformada. Essa é uma tendência significativa que já tem chamado a
atenção de estudiosos do pentecostalismo, de pastores e líderes, de professores
de Teologia. Há muita empolgação, mas também muita desconfiança. Estaríamos
presenciando uma nova onda no movimento pentecostal brasileiro: a onda
calvinista?
A distância entre a
geração dos primórdios da Assembleia de Deus no Brasil, maior denominação
pentecostal verde-e-amarela, e a geração que compõem esse segmento evangélico
nos dias atuais é oceânica. Os desbravadores assembleianos encontraram
aqui um solo fértil para a plantação de suas igrejas, especialmente entre as
populações mais carentes e de baixa escolarização das periferias urbanas e dos
rincões do país. A pregação da cura divina, a simplicidade litúrgica, a
desburocratização organizacional, o papel central dos leigos na evangelização,
o lugar especial dado ao pobre (durante a semana é apenas mais um funcionário
subalterno da indústria, vestindo seu uniforme pesado e sujo, mas aos domingos
é um pastor, tem direito a sentar-se em lugar de destaque e usar da palavra)
são aspectos que ajudaram a determinar o crescimento impressionante alcançado
por essa denominação.
No entanto, muitos
filhos e netos dessa vanguarda assembleiana, cresceram em uma realidade
totalmente distinta, marcada por: um maior acesso à informação, à escolarização
e às universidades; uma tendência forte ao questionamento mais contundente das
tradições e costumes sem sentido; um interesse em conhecer as raízes históricas
do cristianismo e dialogar com diferentes tradições teológicas dentro da
cristandade; uma busca mais apaixonada por Teologia (que foi tão combatida
pelos pentecostais da reserva). Além disso, uma evolução no perfil social da
denominação foi acontecendo aos poucos: a aceitação crescente do
pentecostalismo entre a classe média (ser pentecostal já não é coisa mais de
pobre, negro e analfabeto apenas).
Hoje, não são poucos
os pentecostais que já não aceitam mais uma postura antiintelectual,
arbitrária, ingênua e fechada que caracterizou seus antepassados. O teólogo
batista Luiz Sayão disse, em uma de suas palestras, que quando vai ministrar em
conferências, congressos e seminários pentecostais vende muito mais de seus
livros do que em eventos similares organizados por denominações
históricas.
Creio que isso seja
positivo. Uma grande onda jovem pentecostal está consumindo boa literatura,
está lendo diferentes pensadores cristãos sem medos, censuras e preconceitos,
está aberta ao conhecimento e ao debate de ideias, está
"desatanizando" João Calvino. E mais: está cansada da teologia
da prosperidade, está enojada das pregações de pura gritaria e socos no ar,
está saturada das canções antropocêntricas, está inquieta com a domesticação de
Deus, está irritada com a mercantilização do sagrado e a comercialização da fé,
está de "saco cheio" com líderes caudilhescos que não são pastores,
mas dominadores da consciência do rebanho, está insatisfeita com esse papo
interminável de usos e costumes sendo ensinados como "doutrinas
centrais" da fé...
Não afirmo, com esse
texto, que o calvinismo deva ser abraçado pelos jovens pentecostais como forma
de se colocarem como cristãos evoluídos, inteligentes, de um status superior.
Não. O que quero mostrar é que, o fato de muitos adeptos do pentecostalismo se
interessarem pela teologia história reformada, pelo diálogo com as diferentes
abordagens teológicas, pelo conhecimento bíblico profundo e por uma
espiritualidade equilibrada, é sinal de avanço.
http://www.crencaevivencia.blogspot.com.br/2015/04/os-pentecostais-estao-descobrindo-o.html
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