[...] o que é o calvinismo? Essa não é uma pergunta fácil de se responder. Kuiper e Richard Muller já demonstraram que há várias formas de se entender o que é “calvinismo”, variando seu sentido de acordo com a época ou o lugar. Entretanto, acredito que para o nosso presente contexto, há duas definições bastante úteis que podemos utilizar.
A primeira forma é
relacionada diretamente com o grande reformador João Calvino. Como o nome
sugere calvinismo num sentido estrito é o sistema de doutrinas sistematizado
por Calvino, abrangendo, por exemplo, a doutrina das Escrituras, dos
Sacramentos, da Justificação pela Fé, do Governo da Igreja, e, é claro, sua
soteriologia, as famosas doutrinas da Graça (Depravação Total, Eleição
Incondicional, Expiação Limitada, Graça Irresistível e Perseverança dos
Santos). Nesse sentido, de seguidores das doutrinas de João Calvino, algumas
pessoas podem ser consideradas calvinistas em alguns aspectos e como
não-calvinistas em outras. Por exemplo, batistas calvinistas normalmente são
calvinistas em relação as doutrinas da graça, mas não seguem Calvino na sua
compreensão sobre o sacramento do Batismo, ou presbiterianos
dispensacionalistas são calvinistas em relação tanto as doutrinas da graça,
quanto ao governo da igreja, mas não concordam com o entendimento do reformador
sobre a unidade dos Pactos.
Entretanto não é comum
calvinismo ser definido nesses termos estritos. Compreende-se calvinismo, em um
sentido amplo, como sendo as doutrinas sustentadas pelos Reformadores e por
aqueles que os sucederam. Seria, então, um termo usado de forma sinônima com
“doutrina reformada”. Não se trata de apenas um homem, mas a fé na soberania de
Deus sobre a salvação do homem e sobre todas as coisas. Como Curt Daniel
coloca:
“O sistema de teologia
conhecido como calvinismo responde sem qualquer apologia ou compromisso: “Deus
é o Rei”. Virtualmente todos os outros sistemas de teologia podem dizer que
concordam, mas sobre um minucioso escrutínio, eles colocam o homem no trono com
Deus, ou até depõe Deus completamente e entronizam o homem.
Talvez você possa ter se
perguntado o que é esse calvinismo para fazer uma afirmação tão ousada.
Obviamente ele é associado com o nome de João Calvino, mas essa teologia é mais
antiga. É ensinada em ambos os testamentos da Bíblia. Muitos dos antigos pais a
ensinaram, especialmente o grande Agostinho. Muito dos reformadores
protestantes foram ou calvinistas ou no básico concordavam com sua teologia,
tais como Martinho Lutero. Em seguida, houve os puritanos ingleses e
americanos, como John Bunyan e Matthew Henry, dos quais quase todos criam no
calvinismo. Mais tarde, pregadores e teólogos calvinistas incluíam Jonathan
Edwards, Charles Hodge, Charles Haddon Spurgeon, AW Pink, Martin Lloyd-Jones e
James I. Packer.
[..]
A maioria das denominações
protestantes que se originaram na Reforma são fundamentadas sobre confissões de
fé oficiais que são claramente calvinistas, como a Confissão de Westminster
(presbiterianismo), os Cânones de Dort (reformado), os Trinta e Nove artigos
(Episcopalismo), a Confissão Batista de 1689 (batistas), a Declaração de Savoy
(congregacionalismo) e muitos outros. O luteranismo histórico é muito próximo
ao calvinismo. Assim, a teologia do calvinismo é muito antiga e tem resistido
ao teste do tempo. Calvinismo não é um modismo teológico.
Calvinismo é um ramo do
cristianismo evangélico, sustentando todos os pontos essenciais da fé, como a
plena autoridade das Escrituras e a divindade de Cristo. [...]
Se alguém quiser resumir
as características distintivas do calvinismo, então só precisa aprender o
significado das palavras "Graça Soberana." Todas as teologias
evangélicas concordarão que a salvação é somente pela graça de Deus, mas
somente o calvinismo diz que ela é soberanamente dada a quem Deus escolhe
concedê-la. Para entender plenamente as palavras, então, é preciso entender o
ensino calvinista da soberania de Deus e o que nós chamamos de "as
doutrinas da graça." Essas são geralmente resumidas como os Cinco Pontos
do Calvinismo pelo popular acrônimo TULIP: depravação total, eleição
incondicional, expiação limitada, graça irresistível e perseverança dos santos.
Mas tudo isso traz de volta à questão de quem governa o universo.
Podemos acrescentar que o
calvinismo enfatiza as cinco grandes doutrinas redescobertas na Reforma
Protestante, ou seja, Sola Scriptura (somente a Escritura), Sola Gratia
(somente a Graça), Sola Fide (somente pela Fé), Solo Christo (somente Cristo) e
Soli Deo Gloria (só a Deus seja a glória). Uma vez que acreditamos que todas as
doutrinas devem ser testados pelas Escrituras (Atos 17:11; 1 Tess 5:21;. Is
8:20), você está convidado a examinar as Escrituras e ver se o Calvinismo é
realmente o ensinamento da Palavra de Deus”.
Nesse sentido, calvinismo
representa uma ampla tradição reformada, onde há espaço, dentro de certos
limites, para divergências sobre pontos específicos de doutrina, sem que isso
force alguém a deixar de ser caracterizado como calvinista. A própria Reforma
Protestante foi composta de valorosos homens de Deus que não concordavam sobre
todos os pontos uns com os outros. Isso não significa uma fraqueza, mas sim um
ponto forte. Uma vez que não se considera o entendimento humano de quem quer
que seja como divinamente inspirado, discordâncias sobre pontos não essenciais
devem fazer parte da Igreja e do diálogo que nos ajuda a compreender melhor a
revelação de Deus nas Escrituras Sagradas.
Tendo dito isso, podemos
passar para a parte mais específica do site.
Afinal, o que é calvinismo
moderado? Adianto que não tem nenhuma relação com o
suposto “calvinismo moderado” de Norman Geisler exposto em “Eleitos, mas
Livres”.
Calvinismo
moderado é um termo cunhado historicamente para designar os calvinistas que
acreditam que a expiação é limitada em propósito e não na extensão das pessoas
representadas. Nós cremos na fórmula lombardiana que diz que “Cristo morreu
suficientemente por todos, e eficientemente somente pelos eleitos”. Embora essa
posição seja rapidamente rotulada como calvinismo de quatro pontos, não é
correto chamá-la assim. Nós acreditamos nos cinco pontos, mas não na Expiação
Limitada como definida e popularizada por John Owen. [...]. Uma exposição
calvinista moderada dos cinco pontos do calvinismo por Curt Daniel,
anteriormente citado, pode ser encontrada acessando http://mortoporamor.blogspot.com.br/2010/11/curt-daniel-os-cinco-pontos-do.html.
Abaixo seguem algumas diferentes formas de se compreender a
fórmula lombardiana "suficiente por todos, eficiente pelos eleitos",
que demonstram a distinção do calvinismo moderado para outras formas de
calvinismo (high ou hyper):
“1) Suficiência
Limitada: Somente os pecados dos eleitos foram imputados a Cristo.
Imputação limitada decorre da limitada representação legal devido à morte ser
lida através das lentes do pacto da redenção. Os sofrimentos de Cristo eram uma
parte da satisfação necessário, e, assim, seus sofrimentos foram medidos pela
justiça da imputação (equivalentismo). Cristo sofreu tanto por tantos pecados.
Sua morte é, portanto, apenas suficiente para o eleito. Não há nenhuma conexão
necessária entre a oferta do evangelho e a morte que Cristo morreu. Alguns que
sustentam essa visão negam a livre oferta. Normalmente está associada com o
hiper-calvinismo, mas alguns poucos high calvinistas também defendem essa
posição. A morte de Cristo é apenas suficiente para os eleitos pela ordenação
de Deus.
2) Suficiência Hipotética
para Todos e Real para os Eleitos: Somente os pecados dos
eleitos foram imputados a Cristo. Imputação limitada decorre da limitada
representação legal devido à morte ser lida pelas lentes do pacto da redenção.
A natureza da pessoa de Cristo determina o valor de sua satisfação, por isso é
de valor infinito. Este valor infinito é necessário porque os eleitos, devido a
seus pecados, são infinitamente culpados, e não porque a culpa do mundo foi
imputada a Ele. A suficiência real (a que é realmente conta neste mundo) em
Cristo corresponde à justa punição devida aos eleitos somente. O aspecto
hipotético pertence aos não-eleitos. Se Deus tivesse, hipoteticamente, eleito
mais pessoas, então não haveria nenhuma diferença no que Cristo fez. No
entanto, a suficiência real é cercada pelo Decreto de Deus sobre os eleitos,
ela não tem relação com os pecados dos não-eleitos. Não há nenhuma conexão
necessária entre a oferta do evangelho e a morte que Cristo morreu. Esta visão
é geralmente associada com o high calvinismo, mas também é sustentada por
alguns hiper-calvinistas. A morte de Cristo é realmente suficiente para os
eleitos pela ordenação de Deus, e hipoteticamente suficiente para os
não-eleitos.
3) Suficiência Real para
Todos e Propósitos Distintos: A culpa dos pecados de
toda a humanidade foram imputados a Cristo quando Ele morreu. A imputação
corresponde às exigências da lei no que diz respeito a cada pessoa. Cristo, em
sua morte, remove as barreiras jurídicas que se colocam no caminho para
qualquer pessoa ser perdoada por Deus. O Senhor quis que esta morte fosse uma
provisão universal para toda a humanidade, a fim de que todos possam ser
salvos, mas não desejou igualmente que todos sejam salvos. O comando para
indiscriminadamente oferecer o evangelho a todos por meio do evangelho é
baseado na disponibilidade real dessa suficiente satisfação para todo homem.
Cristo realmente sofreu e morreu em Sua pessoa infinita a morte que era devida
a todo homem. Esta visão é a associada com o calvinismo moderado”. (Tony Byrne)
Outro esclarecimento
importante que deve ser feito é sobre o rótulo de que o calvinismo moderado
seja amyraldismo. Normalmente isso ocorre porque Amyrald foi condenado por
heresia (embora posteriormente absolvido) e ao fazer a associação tenta-se
levar a posição ao descrédito antes que alguém possa apreciá-la. O que deve ser
lembrado é que a acusação contra Amyrald foi contra sua suposta crença em
decretos condicionais e não contra sua crença numa expiação universal. Mas
mesmo a acusação sobre os decretos condicionais foi provada não ter fundamento,
uma vez que a posição de Amyrald sobre o assunto não se referia à vontade
secreta de Deus, mas à Sua vontade revelada. O Sínodo de Alancon (1637) deixa
isso claro:
“19. E quanto ao Decreto
Condicional, dos quais se faz menção no citado Tratado da Predestinação, os
referidos senhores Testard e Amyrald declararam que eles nunca compreenderam
qualquer outra coisa além da vontade revelada de Deus na sua Palavra, de dar
graça e vida aos crentes”
A verdade é que Amyrald
era um calvinista moderado, e não que os calvinistas moderados sejam
amyraldianos. Alguém que sustenta a visão de uma expiação limitada-ilimitada
não precisa abraçar a suposta ordem dos decretos de Amyrald. Existem e
existiram calvinistas moderados infralapsarianos e supralapsarianos. A verdade
é que quase nenhum calvinista que acredita na expiação universal conhece suas
obras. O teólogo que tem influenciado os calvinistas moderados ao longo dos
tempos é John Davenant, grande teólogo inglês, o qual representou sua nação em
Dort, por meio de sua obra “Dissertação sobre a Morte de Cristo”.
[...]
FONTE: http://mortoporamor.blogspot.com.br/p/sobre-esse-site.html