2 Timóteo 1:9-10: “Que nos
salvou e nos chamou com santo chamado; não segundo as nossas obras, mas
conforme seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes
dos tempos eternos, e manifestada, agora, pelo aparecimento de nosso Salvador
Cristo Jesus, o qual não só destruiu a morte, como trouxe à luz a vida e a
imortalidade, mediante o evangelho”
Mostramos esta manhã, de acordo com o texto de Paulo, que se quisermos
conhecer a livre misericórdia de nosso Deus em nos salvar, temos de ir até o
Seu conselho eterno, pelo qual Ele nos escolheu antes da fundação do mundo.
Disso vemos que Ele não considerou nossas pessoas, nem a nossa dignidade, nem
qualquer mérito que poderíamos possivelmente possuir. Antes de nascermos, fomos
arrolados em Seu registro. Ele já havia nos adotado por Seus filhos. Portanto,
vamos conceder tudo a Sua misericórdia, sabendo que não podemos nos orgulhar de
nós mesmos, a não ser que venhamos furtar Dele a honra que lhe pertence.
Os homens têm se esforçado em inventar sofismas para obscurecer a
graça de Deus. Porque eles dizem que, apesar de Deus escolher os homens antes
do início do mundo, ainda assim foi de acordo com sua presciência que um seria
diferente do outro. As Escrituras demonstram claramente que Deus não esperou
ver se os homens eram dignos ou não, quando Ele os escolheu, mas os sofistas
pensam que podem obscurecer a graça de Deus, dizendo que embora Ele não tenha
considerado os méritos passados, Ele tinha um olho naqueles que estavam por
vir. Pois dizem eles que embora Jacó e seu irmão Esaú não tivessem feito nem o
bem nem o mal, e Deus tenha escolhido um e recusado a outro, ainda assim Ele
previu – como todas as coisas são presentes para Ele – que Esaú seria um homem
vicioso, e que Jacó seria como se mostrou posteriormente.
Mas essas são especulações tolas, porque elas simplesmente fazem de
Paulo um mentiroso; os quais dizem que Deus não recompensa nossas obras quando
Ele nos escolhe, porque Ele fez isso antes do início do mundo. Porém, embora a
autoridade de Paulo fosse abolida, ainda assim a questão é muito clara e
evidente, não só nas Sagradas Escrituras, mas também na razão, de modo que
aqueles que fazem um escape desse tipo, se mostram homens vazios de toda a
habilidade. Porque se buscarmos em nós mesmos à fundo, o que podemos encontrar
de bom? Não foi toda a humanidade amaldiçoada? O que trazemos do ventre de
nossa mãe, a não ser pecado?
Portanto, não diferimos nem um pouco uns dos outros, mas apraz a
Deus tomar para Si aqueles que Ele quer. E por esse motivo, Paulo usa estas
palavras em outro lugar, quando diz que os homens não têm do que se regozijar,
pois nenhum homem se encontra melhor do que seus companheiros, a não ser porque
Deus o distingue. Então, se confessarmos que Deus nos escolheu antes do início
do mundo, segue-se necessariamente que Deus nos preparou para receber a Sua
graça. Porque Ele concedeu sobre nós a bondade, que não estava em nós
anteriormente. Porque Ele nos escolheu para sermos herdeiros do reino dos céus,
mas também nos justifica e nos governa pelo Seu Espírito Santo. O cristão deve
ser muito bem resolvido nesta doutrina, estando além de qualquer dúvida.
Há alguns homens nestes dias, que ficariam felizes se a verdade de
Deus fosse destruída. Tais homens lutam contra o Espírito Santo, como bestas
loucas, e se esforçam por suprimir as Sagradas Escrituras. Há mais honestidade
nos papistas, do que nesses homens. Porque a doutrina dos papistas é muito melhor,
mais santa, e concorda mais com as Escrituras Sagradas, do que a doutrina
desses homens vis e perversos, os quais abatem a santa eleição de Deus; esses
cães que latem para ela, e porcos que a dilaceram.
No entanto, sustentemos firmemente o que aqui nos é ensinado: Deus
tendo nos escolhido antes do mundo ter seu início, devemos atribuir a causa da
nossa salvação à Sua livre bondade. Devemos confessar que Ele não nos toma para
sermos Seus filhos, por qualquer mérito de nós mesmos, pois não tínhamos nada
para nos recomendar à seu favor. Portanto, devemos colocar a causa e a fonte da
nossa salvação somente Nele e fundamentar a nós mesmos sobre isso, caso
contrário, tudo que construirmos, virá a ser nada.
Devemos reparar aqui o que Paulo conecta, a saber, a graça de Jesus
Cristo, com o conselho eterno de Deus Pai, e então ele nos traz nosso chamado,
para que nós possamos ter a certeza da bondade de Deus e da Sua vontade, que
teria permanecida oculta de nós, a menos que tivéssemos um testemunho disso. Paulo
diz em primeiro lugar, que a graça que repousa sobre o propósito de Deus, e que
é compreendida nele, é dada em nosso Senhor Jesus Cristo. Como se dissesse:
“Vendo que nós merecemos ser rejeitados e odiados como inimigos mortais de
Deus, era preciso que fossemos enxertados, por assim dizer, em Jesus Cristo,
para que Deus pudesse nos conceder e nos reconhecer como sendo Seus filhos.
Caso contrário, Deus não poderia olhar para nós, a não ser para nos odiar,
porque não há nada senão miséria em nós; estamos cheios de pecado, e estufados,
por assim dizer, com todos os tipos de iniquidade”.
Deus, que é a própria justiça, não pode consentir conosco, enquanto
considera nossa natureza pecaminosa. Portanto, quando Ele quis nos adotar antes
do início do mundo, foi requisitado que Jesus Cristo fosse colocado entre nós e
Ele, para que fossemos escolhidos em Sua pessoa, pois Ele é o Filho mui amado:
quando Deus nos uniu a Ele, fez como Lhe aprouve. Vamos aprender a ir
diretamente a Jesus Cristo se nós quisermos não duvidar da eleição de Deus:
porque Ele é o verdadeiro espelho onde devemos contemplar nossa adoção.
Se Jesus Cristo é tirado de nós, então Deus é um juiz de pecadores,
de modo que não podemos esperar por qualquer bondade ou favor em Suas mãos,
mas, ao invés, esperar a vingança, porque sem Jesus Cristo, Sua majestade será
sempre terrível e temível para nós. Se ouvirmos menção ao seu propósito
duradouro, não podemos deixar de ter medo, como se já estivesse armado para nos
mergulhar na miséria. Mas quando sabemos que toda graça reside em Jesus Cristo,
então podemos estar certos de que Deus nos amou, embora fossemos indignos.
Em segundo lugar, devemos notar que Paulo não fala simplesmente da
eleição de Deus, porque isso não nos deixaria acima de qualquer dúvida, mas, ao
invés, permaneceríamos na perplexidade e na angústia. Mas ele acrescenta o
chamado, pelo qual Deus tornou aberto Seu conselho, que antes era desconhecido
para nós, e o qual não podíamos alcançar. Como saberemos então que Deus nos
escolheu, para que possamos nos alegrar Nele, e nos gloriar da bondade que Ele
concedeu a nós? Aqueles que falam contra a eleição de Deus, deixam o evangelho
sozinho. Eles levam tudo o que Deus estendeu a nós, para nos levar até Ele;
Todos os meios que Ele designou para nós, e que soube que era adequado e
apropriado para nosso uso. Não devemos ir por esse caminho, porque de acordo
com a regra de Paulo, devemos conectar o chamado de Deus com a eleição
eterna.
Diz-se que Ele nos chamou, e então temos essa segunda palavra
“chamado”. Por isso, Deus nos chama: e como? Certamente, quando Lhe apraz nos
certificar de nossa eleição, a qual não poderíamos alcançar de outra maneira.
Porque, como diz o profeta Isaías e também o apóstolo Paulo, quem pode entrar
no conselho de Deus? Mas quando apraz a Deus comunicar a Si mesmo a nós
familiarmente, então recebemos o que sobrepuja o conhecimento de todos os
homens, porque temos uma boa e fiel testemunha, que é o Espírito Santo, que nos
eleva acima do mundo, e nos leva até aos maravilhosos segredos de Deus.
Não devemos falar precipitadamente da eleição de Deus, e dizer que
somos predestinados, a não ser se completamente seguros da nossa salvação. Não
devemos falar levianamente disso: se Deus nos tomou para sermos Seus filhos ou
não. Como então? Olhando para o que está estabelecido no Evangelho. Ali Deus
nos mostra que Ele é nosso Pai, e que Ele nos trará à herança da vida, tendo
nos marcado com o selo do Espírito Santo em nossos corações, que é um
testemunho indubitável da nossa salvação, se o recebemos por fé.
O evangelho é pregado a um grande número, que não obstante, são
réprobos. Sim, e Deus tem revelado e demonstrado que Ele os amaldiçoou, porque
eles não têm parte nem porção em Seu reino, pois eles resistem ao Evangelho, e
rejeitaram a graça que lhes é oferecida. Mas, quando recebemos a doutrina de
Deus, com obediência e fé, descansamos em Suas promessas e aceitamos a oferta
que Ele nos faz, para nos tomar por Seus filhos, isso, eu digo, é a certeza da
nossa eleição. Mas devemos salientar aqui, que quando temos conhecimento da
nossa salvação, quando Deus nos chamou e nos iluminou na fé do Seu evangelho,
isso não deve tornar nula a predestinação eterna que veio anteriormente.
Há um grande número nestes dias que dirão: “Quem Deus escolheu, a
não ser os fiéis?” Eu concordo com isso, mas eles tiram uma maligna
consequência disso e dizem que a fé é a causa, sim, a primeira causa de nossa
salvação. Se eles a chamassem de causa intermediária, isso seria, certamente,
verdadeiro, pois a Escritura diz: “Pela graça sois salvos mediante a fé” (Ef
2:8). Mas devemos ir mais alto, pois se eles atribuem a fé ao livre-arbítrio
dos homens, eles blasfemam contra Deus perversamente, e cometem um sacrilégio.
Devemos ir ao que a Escritura nos demonstra, a saber, que quando Deus nos dá a
fé, devemos saber que não somos capazes
de receber o evangelho, a não ser que ele nos molde pelo Espírito Santo.
Não é suficiente para nós ouvirmos a voz do homem, a menos que Deus
trabalhe dentro de nós, e fale em nós de uma forma secreta pelo Espírito Santo,
e a partir daí vem a fé. Mas qual é a causa disso? Por que a fé é dada a um e
não a outro? Lucas nos mostra, dizendo: “Creram todos os que haviam sido
destinados para a vida eterna.” (Atos 13: 48). Havia um grande número de
ouvintes, e ainda assim apenas alguns deles receberam a promessa da salvação. E
quem eram esses? Aqueles que foram designados para a salvação. Paulo fala, mais
uma vez, muito amplamente sobre esse assunto em sua epístola aos Efésios, de forma
que não pode ser possível que os inimigos da predestinação de Deus não vejam
uma coisa tão clara e evidente, a não ser que o diabo tenha arrancado seus
olhos e eles tenham se tornado vazios de toda razão.
Paulo diz que Deus nos chamou, e nos fez participantes de Seus
tesouros e riquezas infinitas, que nos foram dadas por nosso Senhor Jesus
Cristo, de acordo com Sua vontade de nos escolher antes da fundação do mundo.
Quando dizemos que nós somos chamados à salvação, porque Deus nos deu a fé, não
é por não existir uma causa maior e quem quer que não vá até à eleição eterna
de Deus, toma um pouco do que é Dele, e reduz Sua honra. Isto é encontrado em
quase toda parte nas Escrituras Sagradas.
Para que possamos fazer uma breve conclusão sobre este assunto,
vamos ver de que maneira devemos nos manter. Quando perguntamos sobre a nossa
salvação, não devemos começar por “somos escolhidos?” Não. Nunca podemos subir
tão alto. Seríamos confundidos milhares de vezes, e teríamos nossos olhos
ofuscados, antes de conseguirmos chegar ao conselho de Deus. O faremos então?
Ouçamos o que é dito no evangelho. Quando Deus tem sido tão gracioso, ao nos
fazer receber a promessa oferecida, sabemos que isso é como se Ele tivesse
aberto todo Seu coração para nós, e registrado nossa eleição em nossas
consciências!
Devemos estar certificados de que Deus nos tomou por Seus filhos, e
que o reino dos céus é nosso; porque somos chamados em Jesus Cristo. Como
podemos saber isso? Como nós mesmos devemos proceder em relação à doutrina que
Deus colocou diante de nós? Devemos magnificar a graça de Deus, e saber que não
podemos trazer nada para nos recomendar o Seu favor. Devemos nos tornar em nada
aos nossos próprios olhos, porque nós não podemos reivindicar qualquer
exaltação. Porém sabemos que Deus nos chamou para o evangelho, tendo nos
escolhido antes da fundação do mundo. Esta eleição de Deus é, por assim dizer,
uma carta fechada, naquilo que a consiste e em sua própria natureza, mas
podemos lê-la, porque Deus dá um testemunho dela, quando Ele nos chama a Si
mesmo por meio do evangelho e pela fé.
Pois assim como a original ou primeira cópia não tiram nada da carta
ou do escrito que é lido, da mesma maneira devemos estar além de qualquer
dúvida de nossa salvação. Quando Deus nos certifica pelo Evangelho que Ele nos
toma por Seus filhos, este testemunho traz paz consigo, sendo assinado pelo
sangue de nosso Senhor Jesus Cristo e selado pelo Espírito Santo. Quando temos
este testemunho, não temos o suficiente para satisfazer nossas mentes?
Portanto, a eleição de Deus está tão distante de ser contra isso, que antes
confirma o testemunho que temos no evangelho. Não devemos duvidar, que Deus tem
registrado os nossos nomes antes que o mundo fosse feito, entre Seus filhos
escolhidos, mas o conhecimento do porquê disso Ele reservou para Si.
Devemos sempre ir a nosso Senhor Jesus Cristo, quando falarmos de
nossa eleição, porque sem Ele – como já demonstrado – não podemos chegar a
Deus. Quando falamos do seu decreto, também podemos ser surpreendidos como
homens dignos de morte. Mas se Jesus Cristo for o nosso guia, podemos com
alegria depender Dele, sabendo que Ele tem mérito suficiente em Si para fazer
de todos nós membros amados de Deus Pai. Mérito que é suficiente por nós para
que sejamos enxertados em Seu corpo, e feitos um com Ele. Assim devemos meditar
sobre esta doutrina, se quisermos aproveitá-la corretamente, como é colocada
por Paulo, quando diz que a graça da salvação nos foi dada antes que da
fundação do mundo. Devemos ir além da ordem da natureza, se quisermos saber
como somos salvos, porque causa, e de onde vem a nossa salvação.
Deus não quis nos deixar em dúvida, nem ocultar Seu conselho, de
forma que não pudéssemos saber como a nossa salvação foi assegurada; mas nos
chamou a Si pelo Seu evangelho, e tem selado o testemunho da Sua bondade e amor
paternal em nossos corações. Assim, com tal certeza, vamos glorificar a Deus,
que nos chamou de Sua livre misericórdia. Descansemos sobre nosso Senhor Jesus
Cristo, sabendo que Ele não nos enganou quando Ele fez com que fosse pregado
que Ele deu a Si mesmo por nós e testemunhou isso pelo Espírito Santo. Pois a
fé é um sinal indubitável de que Deus nos toma por Seus filhos, e assim somos
levados a eleição eterna, conforme a qual Ele nos escolheu anteriormente.
Ele não diz que Deus nos escolheu porque temos ouvido o evangelho,
mas por outro lado, Ele atribui a fé que nos é dada como a mais alta causa, a
saber, porque Deus tem preordenado que Ele iria nos salvar, vendo que estávamos
perdidos e rejeitados em Adão. Há alguns tolos que, para cegar os olhos dos
simples e outros tais como eles mesmos, dizem que a graça da salvação nos foi
dada porque Deus determinou que seu filho redimisse a humanidade e, portanto,
isso é comum a todos.
Mas Paulo fala aqui de outro tipo e os homens não podem por
argumentos tão infantis desfigurar a doutrina do evangelho, pois é dito
claramente que Deus nos salvou. Isso se refere a todos sem exceção? Não. Ele só
fala dos fiéis. Novamente: Paulo inclui todo o mundo? Alguns foram chamados
pela pregação, e ainda se fizeram indignos da salvação que lhes foi oferecida,
e por isso foram reprovados. Outros foram deixados por Deus em sua
incredulidade, os quais nunca ouviram a pregação do evangelho.
Portanto Paulo se dirige clara e precisamente àqueles a quem Deus
tinha escolhido e reservado para Si. A bondade de Deus nunca será vista na sua
verdadeira luz, nem será honrada como merece, a não ser que nós saibamos que
Ele não queria que permanecêssemos na destruição geral da humanidade, onde Ele
deixou aqueles que eram como nós. Não somos diferentes desses, porque nós não
somos melhores do que eles. Mas assim Deus se agradou em fazer. Portanto, todas
as bocas devem ser fechadas. Os homens não devem presumir de tomar nada por si
mesmos, exceto exaltar a Deus, confessando-se devedores a Ele por toda a Sua
salvação.
Devemos fazer agora algumas observações sobre as palavras utilizadas
por Paulo neste lugar. É verdade que a Eleição de Deus nunca poderia ser
aproveitável para nós, a não ser que saibamos por meio do evangelho, que por
esse motivo Deus se agradou em revelar o que tinha mantido em segredo antes de
todos os séculos. Mas, para declarar seu significado mais claramente,
acrescenta que esta graça nos é revelada agora. E como? “Pelo aparecimento de
nosso Salvador Cristo Jesus”. Quando ele diz que esta graça nos é revelada pelo
aparecimento de Jesus Cristo, mostra que devemos ser muito ingratos, se não
pudermos nos satisfazer e descansar na graça do Filho de Deus. O que podemos
esperar mais? Se pudéssemos subir além das nuvens, e buscar os segredos de
Deus, qual seria o resultado disso? Não seria saber que somos Seus filhos e
herdeiros?
Agora sabemos essas coisas, pois elas estão claramente definidas em
Jesus Cristo. Porque é dito que todo aquele que Nele crê goza do privilégio de
ser filho de Deus. Portanto, não devemos desviar dessas coisas nem um jota, se
quisermos ter certeza de nossa eleição. Paulo já nos tem mostrado que Deus
nunca nos amou, nem nos escolheu, a não ser na pessoa do Seu Filho amado.
Quando Jesus Cristo apareceu, Ele revelou vida para nós, caso contrário, jamais
teríamos sido participantes dela. Ele nos fez conhecer o conselho eterno de
Deus. Mas é presunção para os homens tentar saber mais do que Deus quer que
eles saibam. Se andamos sóbria e reverentemente em obediência a Deus, ouvindo e
recebendo o que Ele diz nas Sagradas Escrituras, o caminho será feito claro diante
de nós. Paulo diz que quando o Filho de Deus apareceu no mundo, Ele abriu
nossos olhos, para que pudéssemos saber que Ele foi gracioso para conosco,
antes que o mundo fosse feito. Fomos recebidos como Seus filhos, e considerados
como justos, de forma que não precisamos duvidar que o reino dos céus esteja
preparado para nós. Não que tenhamos isso por nossos méritos, pois ele pertence
a Jesus Cristo, que nos faz participantes Consigo.
Quando Paulo fala do aparecimento de Jesus Cristo ele diz, “Ele
trouxe à luz a vida e a imortalidade através do evangelho”. Não é somente dito
que Jesus Cristo é nosso Salvador, mas que Ele é enviado para ser um mediador,
para nos reconciliar pelo sacrifício da Sua morte. Ele é enviado a nós como um
cordeiro sem defeito, para nos purificar e fazer satisfação por todas as nossas
transgressões. Ele é a nossa garantia, para nos livrar da condenação e da
morte. Ele é a nossa justiça. Ele é o nosso advogado, que intercede com Deus
para que Ele ouça nossas orações.
Temos de conceder que todas essas qualidades pertencem a Jesus
Cristo, se quisermos saber corretamente como Ele apareceu. Devemos olhar para a
substância contida no evangelho. Devemos saber que Jesus Cristo apareceu como
nosso Salvador, e que Ele sofreu para nossa salvação, e que fomos reconciliados
com Deus Pai através Dele. Porque temos sido limpos de todas as nossas manchas,
e libertos da morte eterna. Se não soubermos que Ele é nosso advogado, que nos
ouve quando oramos a Deus a fim de que nossas orações possam ser respondidas, o
que será de nós? Que confiança podemos ter de invocar o nome de Deus, que é a
fonte da nossa salvação? Mas diz Paulo que Jesus Cristo cumpriu todas as coisas
que eram necessárias para a redenção da humanidade.
Se o evangelho fosse lançado fora, de que vantagem seria para nós
que o Filho de Deus tenha sofrido a morte e ressuscitado ao terceiro dia para
nossa justificação? Nada disso nos beneficiaria. Sendo assim, o Evangelho nos
coloca na posse dos benefícios que Jesus Cristo comprou para nós. E, portanto,
apesar Dele estar ausente de nós no corpo, e não se relacionar conosco aqui na
terra, não é que Ele tenha se afastado, como se não pudéssemos encontrá-Lo,
pois o Sol que brilha não ilumina mais o mundo do que Jesus Cristo mostra-se
abertamente para aqueles que têm os olhos da fé sobre ele, quando o evangelho é
pregado. Por isso diz Paulo que Jesus Cristo trouxe a vida à luz, sim, a vida
eterna.
Ele diz: "O Filho de Deus destruiu a morte." E como Ele a
destruiu? Se Ele não tivesse oferecido um sacrifício eterno para apaziguar a
ira de Deus, se não tivesse entrado até o abismo para dali nos tirar, se não
tivesse tomado a nossa maldição sobre Si, se não tivesse tirado o fardo com o
qual éramos esmagados, como estaríamos? Será que a morte teria sido destruída?
Não. O pecado reinaria sobre nós, e a morte da mesma forma. E, de fato, se nós
examinássemos a nós mesmos, veríamos que somos escravos de Satanás, que é o
príncipe da morte. Assim estaríamos presos nesta escravidão miserável, se Deus
não destruísse o diabo, o pecado e a morte. E isso é feito: mas como? Ele tirou
nossos pecados pelo sangue de nosso Senhor Jesus Cristo.
Portanto, embora sejamos pobres pecadores, e em perigo do juízo de
Deus, ainda assim o pecado não pode nos ferir. A picada venenosa é tão cegada
que não pode nos ferir, porque Jesus Cristo ganhou a vitória sobre ela. Ele não
sofreu o derramamento do Seu sangue em vão, mas foi uma purificação onde fomos
lavados por meio do Espírito Santo, tal como é demonstrado por Pedro. E assim
vemos claramente que, quando Paulo fala do Evangelho, onde Jesus Cristo
apareceu, e aparece diariamente para nós, ele não esquece Sua paixão e morte,
nem as coisas que dizem respeito à salvação da humanidade.
Podemos ter a certeza de que na pessoa do nosso Senhor Jesus Cristo
temos tudo o que possamos desejar: temos confiança total e perfeita na bondade
de Deus, e no amor do qual Ele nos dá testemunho. Mas vemos que nossos pecados
nos separam de Deus, e causam uma guerra em nossos membros e ainda assim temos
uma expiação por nosso Senhor Jesus Cristo. E por quê? Porque Ele derramou Seu
sangue para lavar os nossos pecados. Ele ofereceu um sacrifício pelo qual Deus
se reconciliou conosco. Em resumo, Ele tirou a maldição, para que possamos ser
abençoados por Deus. Além disso, Ele conquistou a morte e triunfou sobre ela,
para que pudesse nos livrar da sua tirania, que de outra forma nos esmagaria
completamente.
Assim, vemos que todas as coisas que pertencem a nossa salvação são
realizadas em nosso Senhor Jesus Cristo. E para que possamos entrar em plena
posse de todos esses benefícios sabemos que Ele aparece para nós diariamente
por Seu evangelho. Embora habite em Sua glória celeste, se abrirmos os olhos da
nossa fé, nós o contemplaremos. Devemos aprender a não separar o que o Espírito
Santo tem unido. Vamos observar o que Paulo queria dizer, por uma comparação,
que amplifica a graça que Deus mostrou ao mundo após a vinda de nosso Senhor
Jesus, como se dissesse "os antigos pais não tiveram essa vantagem: ter
Jesus Cristo aparecendo para eles, como apareceu para nós".
É verdade que eles tinham a mesma fé, que a herança dos Céus é deles
bem como nossa, que Deus revelou Sua graça para eles assim como para nós, mas
não na mesma medida, pois viam Jesus Cristo ao longe, sobre as figuras da Lei,
como Paulo diz aos Coríntios. O véu do templo ainda se estendia e os judeus não
podiam chegar perto do santuário, isto é, o santuário material. Agora, porém, o
véu do templo tendo sido removido, nos aproximamos da majestade do nosso Deus. Chegamo-nos
mais familiarmente a Ele, em quem habita toda a perfeição e glória. Em suma:
temos o corpo, enquanto eles tinham apenas a sombra (Colossenses 2:17).
Os antigos pais se submeteram totalmente a suportar a aflição de
Jesus Cristo, como é dito no capítulo 11 de Hebreus. Porque não é dito que
Moisés suportou a vergonha de Abraão, mas de Jesus Cristo. Assim, os antigos
pais, apesar de viverem sob a Lei, ofereciam eles mesmos a Deus em sacrifícios,
para suportar mais pacientemente as aflições de Cristo. E agora, Jesus Cristo
tendo ressuscitado dos mortos, trouxe à luz a vida. Se somos tão delicados que
não podemos suportar as aflições do evangelho, não somos dignos de sermos
apagados do livro de Deus, e sermos rejeitados? Portanto, devemos ser
constantes na fé, e prontos para sofrer, o que quer que Deus queira, pelo nome
de Jesus Cristo, porque a vida é colocada diante de nós, e nós temos um
conhecimento mais familiar do que os antigos pais jamais tiveram.
Sabemos o quanto os antigos pais eram atormentados pelos tiranos e
inimigos da verdade, e como eles sofreram constantemente. A condição da igreja
não é mais grave nestes dias do que foi outrora. Porque agora Jesus Cristo
trouxe a vida e a imortalidade à luz através do Evangelho. Todas as vezes que a
graça de Deus é pregada a nós, é como se o reino dos céus se abrisse para nós,
como se Deus estendesse Sua mão, e nos certificasse que a vida está próxima, e
que Ele nos faz participantes da sua herança celestial. Mas quando olhamos para
essa vida, que foi comprada para nós pelo nosso Senhor Jesus Cristo, não
devemos hesitar em abandonar tudo o que temos neste mundo, para ir ao tesouro
acima, que está nos céus.
Portanto, não sejamos voluntariamente cegos, vendo que Jesus Cristo
coloca diariamente diante de nós a vida e a imortalidade, das quais falamos
aqui. Quando Paulo fala da vida, e acrescenta a imortalidade, é como se
dissesse “Já entramos no reino do céu
pela fé. Embora sejamos como estranhos aqui em baixo, a vida e a graça da qual
fomos feitos participantes por meio de nosso Senhor Jesus Cristo trarão seus
frutos no tempo conveniente, a saber, quando Ele for enviado por Deus Pai para
nos mostrar o efeito das coisas que são diariamente pregadas, as quais foram
cumpridas em Sua pessoa quando Ele estava vestido com a humanidade.”
Fonte: Projeto Ryle – Anunciando a verdade Evangélica. http://bisporyle.blogspot.com/
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