REFORMADORES EM GENEBRA

REFORMADORES EM GENEBRA

sexta-feira, 31 de julho de 2015

ANSIEDADE: O MAL DESTE SÉCULO - Hernandes Dias Lopes

Publicado em 24 de ago de 2013
Verdade & Vida
Programa da Igreja Presbiteriana do Brasil

A REFORMA HOJE - Sergio Lima

Publicado em 3 de jan de 2014
O Rev. Sérgio Lima ensina sobre as origem da reforma interna que deve acontecer dentro de todo crente antes de tornar-se uma reforma externa, e a relação que há entre a reforma ocorrida no tempo de Neemias com a época de Calvino, Farrell, dos huguenotes e de nossos dias.

Esse vídeo é um trecho da pregação ministrada pelo Rev. Sérgio Lima, pastor presbiteriano especializado em missões urbanas e plantação de igrejas.

OS DESIGREJADOS - Augustus Nicodemus, Tarcízio Carvalho Jr, e Mauro Meister

Publicado em 9 de mai de 2014
Dr. Augustus Nicodemus Lopes entrevista Mauro Meister e Tarcízio Carvalho.

O PERIGO DA IDEOLOGIA DE GÊNERO

Publicado em 21 de mai de 2015
Compreenda o que está por trás da ideologia de gênero defendida pela maioria dos governos comprometidos com o avanço da agenda do politicamente correto.

ESCATOLOGIA REFORMADA - Augustus Nicodemus, Heber Campos Jr, e Leandro Lima

Publicado em 25 de jun de 2014
Dr. Augustus Nicodemus Lopes entrevista o Rev. Leandro Lima e o Rev. Heber Carlos de Campos Jr. sobre o fim do mundo, a volta de Cristo, o milênio, o arrebatamento e as diferentes posições entre os evangélicos sobre o assunto.

OS MISTÉRIOS DA BÍBLIA - Leandro Lima

Publicado em 14 de jun de 2014

sábado, 25 de julho de 2015

AS 7 COISAS QUE VOCÊ NÃO PODE FAZER COMO UM RELATIVISTA MORAL - Greg Koukl




Então, você decidiu se converter num relativista moral? Que bom para você! O que poderia ser melhor do que fazer o que te pareça correto? O que poderia ser pior do que deixar que outro te diga o que deve ou não fazer? Além do mais, esta é uma das cosmovisões mais fáceis de adoptar: somente deixa os demais em paz, e lhes pede que façam o mesmo consigo, e você nunca terá que voltar a se preocupar se suas ações são boas ou más. De fato, só há sete coisas que não poderá fazer como um relativista moral. Simplesmente siga a estas regras e você será livre de absolutos para sempre!

Regra#1: Os relativistas não podem acusar os outros de fazerem o que é mal.
O relativismo torna impossível criticar o comportamento dos outros porque, em última instância, nega que exista o que se chama atuar mal. Em outras palavras, se você crê que a moral deve ser definida de forma individual, então, jamais poderá julgar as ações alheias. Os relativistas nem sequer podem objetar o racismo em termos morais. Afinal, em que sentido se pode ter a opinião «é algo mal a discriminação racial» se isto vem de alguém que não crê em categoria absoluta de bondade e maldade ética? Com que justificação poderia intervir? Certamente não com os direitos humanos, pois para ele tal coisa não existe. O relativismo é a máxima postura a favor da livre escolha moral, porque aceita todas as decisões pessoais — mesmo que seja a de ser um racista —.

Regra #2: Os relativistas não podem reclamar do problema do mal.
A realidade do mal no mundo é uma das principais objeções que levantam contra a existência de Deus. O argumento é que, se Deus fosse absolutamente poderoso e em última instância bom, então ele eliminaria o mal. Mas o mal existe, a realidade deve corresponder a um destes três cenários possíveis: (1) Deus é demasiadamente fraco para opor-se ao mal; (2) Deus é demasiadamente indiferente como para preocupar-se com o mal; ou (3) Deus simplesmente não existe. Evidentemente, promover qualquer um destes argumentos implica, também, crer no mal, coisa que um relativista não poderia fazer. De fato, nada pode ser qualificado como mal — nem mesmo o Holocausto — porque fazê-lo equivaleria afirmar que existe alguma espécie de regra moral.

Regra #3: Os relativistas não podem culpar, nem aceitar elogios.
Dentro do relativismo os conceitos de elogio e reprovação carecem completamente de sentido porque não há uma regra moral com que se possa julgar se algo deveria ser aplaudido ou condenado. Sem absolutos, nada é realmente mal, deplorável, trágico, ou digno de reprovação. Tampouco podemos dizer que algo seja realmente bom, honroso, nobre, ou digno de elogio. Tudo se perde numa dimensão desconhecida de um vácuo moral. Quase sempre os que dizem ser relativistas se contradizem neste ponto (evadindo a reprovação, mas aceitando de bom tom o elogio), assim, seja cuidadoso!

Regra #4: Os relativistas não podem afirmar que algo é injusto.
Sob o relativismo a justiça é um conceito que não tem sentido algum. Para começar a própria palavra não significa nada: esta sugere que as pessoas merecem um trato igualitário baseado num padrão externo de que está bem, e como o disse em várias oportunidades, os relativistas não podem crer em algo bom e mal. Em segundo lugar, não existe o que chamamos de culpa. A justiça implica castigar aos culpados, e a culpa supõe ter algo que reprovar — o qual, como demostrei, não existe no relativismo —.

Regra #5: Os relativistas não podem fazer progressos morais.
Com o relativismo é impossível progredir moralmente. Os relativistas podem modificar a sua ética pessoal, isso é seguro, mas nunca poderão se transformar em pessoas morais. Uma reforma moral supõe uma espécie de regra de conduta objetiva que sirva como um padrão que se aspira. Todavia, esta regra é exatamente o que os relativistas negam. Sem um caminho melhor não se pode progredir, e além do mais, tampouco há uma motivação para fazê-lo. O relativismo destrói o impulso moral que leva as pessoas a se superarem, pois não há nada «superior» para se alcançar. Para que mudar o seu ponto de vista moral, se o que você tem favorece o seu próprio interesse e, no momento, faz com você se sinta bem?

Regra #6: Os relativistas não podem sustentar discussões morais significativas.
O relativismo torna impossível falar de moral. Do que se poderia falar? Uma discussão ética implica comparar os méritos de dois pontos de vista diferentes para descobrir qual é melhor. Mas, se a moral é completamente relativa e todas as posturas são igualmente válidas, então nenhuma ideologia é melhor do que outra. Nenhuma postura moral pode ser julgada como adequada, deficiente, irracional, inaceitável, ou mesmo bárbara. De fato, se as discussões éticas só têm sentido quando a moral é objetiva, então só se pode ser um relativista consequente vivendo em silêncio. Nem sequer poderia dizer: «é algo mal impor a sua moral a outros».

Regra #7: Os relativistas não podem promover a obrigação de ser tolerantes.
Finalmente, no relativismo não há tolerância porque a obrigação moral de ser tolerante transgride as regras. O princípio da tolerância é frequentemente considerado como uma das virtudes chaves do relativismo. A moral é pessoal e, portanto, deveríamos tolerar os pontos de vista dos demais abstendo-nos de julgar a sua conduta, ou atitude. Todavia, deveria ser óbvio que este princípio caia numa contradição. Se as regras morais não existem, não pode haver uma regra que exija a tolerância como um princípio moral. E de fato, se não há absolutos morais, por que haveríamos de sequer ser tolerantes? Por que não impor a sua moral a outros se é o que você deseja e sua ética pessoal o permite? Somente tenha certeza de não falar quando não puder suportar.


FONTE: http://doutrinacalvinista.blogspot.com.br/ - Originalmente extraído de http://www.accesodirecto.org/index.php/recursos-cristianos/articulos/siete-cosas-que-no-puedes-hacer-como-un-relativista-moral-greg-koukl/#.VPhoHnzF966 acessado em 5 de Março de 2015. Traduzido por Rev. Ewerton B. Tokashiki, Pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Porto Velho

DOZE RAZÕES POR QUE ROMANOS 9 É SOBRE ELEIÇÃO INDIVIDUAL, NÃO ELEIÇÃO CORPORATIVA - Por Michael Patton


           Muitos debates teológicos centram sobre a doutrina da eleição. Nenhum deles é sobre se a eleição é bíblica, mas eles debatem o significado da eleição. Eu acredito no que é chamado de eleição incondicional individual (o entendimento calvinista). Aqueles que se opõem ao meu entendimento normalmente acreditam em algum tipo de eleição condicional ou eleição corporativa (ou uma combinação dos dois; o entendimento arminiano). A eleição corporativa é a crença de que Deus elege nações para tomar parte em seu plano, não indivíduos para a salvação. Então, quando Romanos 9 fala da eleição de Deus de Jacó sobre Esaú, Paulo está falando da escolha de Deus da nação de Israel para ter um lugar especial na história da salvação. Eles continuarão a interpretar tudo de Romanos 9-11 à luz dessa suposição.
            Porém, eu não acredito que Romanos 9-11 está falando sobre eleição corporativa, mas eleição individual. Aqui vão sete razões por que:
1. Toda a seção (9-11) é sobre a segurança de indivíduos. Eleição de nações não faria nenhum sentido contextual. Paulo falara para os cristãos romanos que nada poderia separá-los do amor de Deus (Rm 8.31-39). A objeção que dá origem aos capítulos 9-11 é: “Como nós sabemos que essas promessas de Deus são seguras considerando o atual (incrédulo) estado de Israel. Eles tinham promessas também e eles não pareciam tão seguros.” Referindo-se a eleição corporativa não se encaixaria no contexto. Mas se Paulo estivesse a responder dizendo que é apenas os indivíduos eleitos dentro de Israel que estão seguros (o verdadeiro Israel), então isto faria sentido. Nós estamos seguros porque todos os indivíduos eleitos têm sempre estado seguros.

2. Na eleição de Jacó sobre Esaú (Rm 9.10-13), embora tendo implicações nacionais, começa com indivíduos. Não podemos perder esse fato.

3. Jacó foi eleito e Esaú rejeitado antes dos gêmeos terem feito qualquer bem ou mal. Não há menção de nações tendo feito qualquer bem ou mal. Se alguém disser que é de nações que Paulo está falando, isto pareceria que eles estão lendo sua teologia no texto.

4. Rm 9.15 enfatiza a soberania de Deus em escolher indivíduos. “Eu terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia.” O pronome quem é um singular masculino. Se nós estivéssemos falando de nações de nações, um pronome plural teria sido usado.

5. Rm 9.16 está lidando com indivíduos, não nações. “Então, não depende daquele quer ou do que se esforça, mas da misericórdia de Deus” (minha tradução). Theolontos (querer) e trechontos (esforçar) são ambos singulares masculinos que é traduzido “aquele” em vez de “aqueles”. É difícil ver implicações nacionais em tudo aqui. É sobre o desejo e esforço de indivíduos. A aquisição da misericórdia de Deus transcende a habilidade do homem.

6. Mais uma vez, Rm 9.18, falando no contexto do endurecimento de Faraó, Paulo sumariza o que ele está tentando dizer usando pronomes singulares masculinos: “Portanto, tem misericórdia de quem quer, e a quem quer endurece.” Se Paulo estivesse meramente falando de eleição corporativa ou nacional, a súmula mudaria de Faraó para nações (plural), mas o resumo aqui enfatiza a soberania da vontade (theleo) de Deus sobre indivíduos (singular).

7. A objeção em Rm 9.14 faz pouco sentido se Paulo estivesse falando sobre eleição nacional ou corporativa. A acusação de injustiça (adikia), da qual muito do livro de Romanos está procurando de Deus vindicar, não está apenas fora de propósito, mas poderia facilmente ser respondida se Paulo estivesse dizendo que a eleição de Deus é apenas com respeito a nações e não tem intenção salvífica.

8. A objeção em Rm 9.18 é ainda mais inapropriada se Paulo não está falando sobre eleição de indivíduos. “Por que se queixa ele ainda? Pois, quem resiste à sua vontade?” O verbo anthesteken, “opor-se ou resistir,” está na terceira pessoa do singular. O problema que o opositor tem é que parece injusto para indivíduos, não corporações de pessoas.

9. A retórica de uma diatribe ou apóstrofe sendo usada por Paulo é muito forte. Uma apóstrofe é um legado literário que é usado onde um opositor imaginário é trazido para desafiar a tese em nome de uma audiência. É introduzido com “que diremos...” (Rm 9.14) e “Você me dirá...” (Rm 9.19). É uma ferramenta de ensino eficaz. Porém, se o opositor imaginário não está entendendo Paulo, a apóstrofe falha em realizar seu propósito retórico a menos que Paulo corrija o mal-entendido. Paulo não corrige o desentendimento, apenas a conclusão. Se a eleição corporativa fosse o que Paulo estava falando, as exigências retóricas que Paulo orienta seus leitores na direção certa por meio da diatribe. Paulo adere às suas armas embora o ensino da eleição de indivíduos mais certamente dá origem a tais objeções.

10. Rm 9.24 fala sobre Deus chamar os eleitos dentre os judeus e gentios. Portanto, é difícil ver eleição nacional desde que Deus chama pessoas “dentre” todas as nações, ek Ioudaion (dentre os Judeus) ek ethnon (dentre os Gentios).

11. No retorno específico de Paulo ao tema da eleição na primeira parte de Romanos 11, ele ilustra aqueles que foram chamados (eleitos) dentre a nação judaica se referindo a Elias que acreditava que era o único a seguir o Senhor. A resposta de Deus ao lamento de Elias é referenciada por Paulo em Rm 11.4 onde Deus diz: “Reservei para mim sete mil homens que não dobraram o joelho a Baal.” Isto nos diz duas coisas: 1) Estes são sete mil indivíduos que Deus reservou, não uma nova nação; 2) Estes indivíduos são reservados por Deus na crença como característica de não terem dobrado os joelhos a Baal (ou seja, eles permaneceram leais a Deus)

12. Usando a ilustração de Elias em Rm 11.5, Paulo discute que “da mesma forma,” Deus preservou um remanescente de crentes de Israel do qual ele (como um indivíduo) faz parte (Rm 11.1). Esta “preservação” na crença de indivíduos está de acordo com “a escolha graciosa de Deus” (11.5).


FONTE: http://pelocalvinismo.blogspot.com.br/2014/02/doze-razoes-por-que-romanos-9-e-sobre.html. Tradução: Francisco Alison Silva Aquino. Originalmente de http://www.reclaimingthemind.org/blog/2010/10/eleven-reasons-why-romans-9-is-about-individual-election-not-cooperate-election/


OS ESQUERDISMO E O EVANGELHO - Alfredo de Souza



Recentemente, um conhecido líder evangélico definiu-se ideologicamente da seguinte maneira: “Sou um pensador independente, de esquerda. Não acredito no neoliberalismo capitalista. Ele produz os excluídos. O Evangelho defende os pobres e os marginalizados".
Causa-me espanto que um homem que se diz “de Deus” seja tão rápido em enfileirar-se nas trincheiras da teologia da libertação, como se ela se constituísse leitura fiel do Evangelho, sem, no entanto, aperceber-se das claras divergências entre ambos. Pelo menos foi o que ficou evidente.
Com base nesta percepção, gostaria de fazer as seguintes considerações:

1. O Evangelho não está restrito a uma classe social. 
Uma das pessoas mais mal compreendidas do mundo é o Senhor Jesus. Em seu nome muitos abusos foram e ainda são praticados. Um deles é restringi-lo à pobreza e à miséria. Na verdade, o Evangelho não defende a pobreza, ele defende unicamente a glória de Deus e a vitória de seu Filho para a salvação dos eleitos, sejam eles riquíssimos, medianos, pobres ou miseráveis financeiramente. Nesse contexto há cinco considerações importantes. Em primeiro lugar, Jesus recebeu e conviveu com ricos, além de freqüentar a casa dos publicanos, indivíduos censuráveis, não por terem recursos financeiros, mas pela maneira como enriqueceram. Em segundo lugar, o próprio conceito de pobreza não está restrito às posses materiais. Mt 5: 3 menciona acerca dos pobres de espírito, enquanto o próprio rei Davi, em meio à sua fortuna, afirmou no Sl 40:17: “Eu sou pobre e necessitado, porém o Senhor cuida de mim; tu és o meu amparo e o meu libertador; não te detenhas, ó Deus meu!” Em terceiro lugar, a defesa bíblica dos pobres ocorre no contexto da Aliança de Deus com o seu povo, ou seja, é o pobre crente que recebe as promessas dos cuidados divinos para a sua penúria. Em quarto lugar, o problema levantado pelas Escrituras não estava na riqueza, mas no apego a ela que promovia o orgulho, o egoísmo e o desprezo pelos necessitados. Em quinto lugar, condicionar as Boas Novas aos pobres, portanto, é permitir que a falta de recursos seja, em si mesma, santificadora do homem. O Evangelho não defende os pobres nem os marginalizados, pois o pobre sem Cristo será condenado, assim como o rico com Cristo será salvo.

2. A esquerda é, em essência, contra a moralidade divina. 
A esquerda defende uma liberdade pecaminosa ao homem. Não importa se se trata do Democratic Party americano, do Bloco de Esquerda português, do Sozialdemokratische Partei Deutschlands alemão ou do PSOL brasileiro, o alvo principal é o mesmo. A luta em favor do aborto, do feminismo, do homossexualismo, do divórcio, da compartimentação radical da sociedade, do uso de células-tronco embrionárias etc. são claramente contra a Lei de Deus. Se, historicamente, alguns segmentos da direita cometeram abusos, os da esquerda, de igual modo, cometeram também. O que determina tal posição é o humanismo em detrimento do teísmo (o mesmo ocorre com a teologia relacional, o neopentecostalismo e, obviamente, a teologia da libertação).

3. Toda cúpula governamental é abastada. 
Este é outro ponto que os esquerdistas não entendem. Os líderes da esquerda clássica vivenciaram a opulência e o conforto financeiro diante da miséria social. O próprio Fidel Castro é um exemplo clássico disso, sem falar de Hugo Chávez ou Evo Morales. Todos estão encastelados devorando faisões enquanto seus patrícios morrem por migalhas. Mas não são apenas estes que vivenciam o usufruto de bens materiais, até mesmo os homens de Deus sérios que ocuparam cargos públicos gozaram da riqueza e do conforto como foi o caso de Davi, de Salomão, de José e de Daniel.

4. Cuidar dos pobres é uma parte do cumprimento da Lei. 
Há vários textos que alertam o crente quanto ao cuidado aos necessitados. Mas isto não ocorre para que haja uma transformação social radical. Isto é utopia. Aliás, “nunca deixará de haver pobres na terra” (Dt 15: 11). A responsabilidade do crente está em partilhar daquilo que Deus concede generosamente, pois nada é nosso, tudo é dele. A riqueza não deve embrutecer ou criar a sensação de auto-suficiência, pois em tudo dependemos da graça. Por isso, somos obrigados a servir ao próximo, inclusive com o bolso. É nesse contexto que o Evangelho promove mudanças na sociedade, embora isso não seja o alvo principal.
Além de tudo o que acima foi exposto, é preciso ressaltar que o esquerdismo manifesto na Teologia da Libertação lê as Escrituras com um programa de mudança social, isto é, a interpretação que ela faz do Evangelho pretende ser apenas uma justificativa para as práticas políticas voltadas à sociedade. Afinal, para a Teologia da Libertação, a leitura é uma “produção de sentido” onde leitor constrói o significado do texto.

Concluo dizendo que “ser de esquerda” e “ser cristão” estabelece uma grande contradição, cuja síntese – se é que isso exista – sempre prejudicará o Evangelho e contribuirá maciçamente para com a esquerda. Ser cristão é não pertencer ao mundo, é ser peregrino, é ser louco para com os inteligentes deste mundo.

SOLA SCRIPTURA

  

FONTE: http://www.cosmovisaocalvinista.com.br/ acessado em 25/07/2015



TESTES SEUS CONHECIMENTOS!

Calvinismo na ponta
da língua...


Após ter lido atentamente as declarações acima, assinale a alternativa que corretamente representa (V) para verdadeiro e (F) para falso nas sentenças sobre as doutrinas reformadas da justificação e santificação:

(a) V-V-F-V-F-F-F-V-V-F
(b) V-V-F-F-V-V-F-F-F-F
(c) V-F-F-V-F-V-F-V-V-F
(d) F-V-F-V-F-F-F-V-V-F
(e) F-F-V-V-F-F-V-V-F-F

Participe e mande sua resposta! Até a próxima!


A ALMA CATÓLICA DOS EVANGÉLICOS BRASILEIROS - Augustus Nicodemus



Os evangélicos no Brasil nunca conseguiram se despir totalmente da influência do catolicismo romano. Nisso reside, em parte, a raiz da atual crise que experimentam.
Por séculos, o catolicismo formou a mentalidade brasileira. O crescimento do número de evangélicos no Brasil é cada vez maior – segundo estimativas do IBGE, seriam 40 milhões só no ano de 2006 –, mas há várias evidencias de que boa parte dos evangélicos não tem conseguido se livrar de herança católica, que ultrapassa em muito a simples presença, em nosso vocabulário, de expressões com Vixe! Ave Maria! Nossa Senhora!
É um fato que conversão verdadeira (arrependimento e fé) implica uma mudança espiritual e moral, mas não significa necessariamente mudança de cosmovisão. Alguém pode ter sido regenerado pelo Espirito e ainda continuar, por um tempo, a enxergar as coisas com os pressupostos antigos. É o caso dos crentes de Corinto. Alguns deles haviam sido impuros, idólatras, adúlteros, efeminados, sodomitas, ladrões, avarentos, bêbados, maldizentes e roubadores. Todavia, haviam sido lavados, santificados e justificados “no nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito de nosso Deus” (1Co 6:9-11) sem que essa mudança correspondesse a um giro completo de mentalidade entre eles. Na primeira carta que lhes escreve, Paulo revela duas áreas em que eles continuavam a agir como pagãos: na maneira grega dicotômica de ver o mundo dividido em matéria e espírito (o que dificultava a aceitação das relações sexuais no casamento e da ressurreição física dos mortos – caps. 7 e 15) e o culto à personalidade mantido para com os filósofos gregos (que logo os levou a formar partidos na igreja em torno de Paulo, Pedro, Apolo e até mesmo o próprio Cristo – caps. 1 a 4). Eles eram cristãos, mas com a alma grega pagã.
Da mesma forma que em Corinto, creio que grande parte dos evangélicos no Brasil tem a alma católica. Antes de passar às argumentações, preciso esclarecer um ponto. Todas as tendências que identifico entre os evangélicos como herança católica, no fundo, antes de serem católicas, são realmente tendências da nossa natureza humana decaída, corrompida e manchada pelo pecado, manifestas em todos os sistemas e não somente no catolicismo. Como declarou o reformado R. Hooykas, famoso historiador da ciência, “no fundo, somos todos romanos”1. Todavia, alguns sistemas são mais que outros, como penso que é o caso do catolicismo brasileiro. E que tendências são essas?
1.             O gosto por bispos e apóstolos. Na Igreja católica, o sistema papal impõe autoridade de um único homem sobre todo o povo. A distinção entre clérigos (padres, bispos, cardeais e o papa) e leigos (povo comum) eleva os sacerdotes católicos a um nível superior, como se revestidos de autoridade, carisma, espiritualidade inacessível, o que provoca admiração e espanto da gente comum, infundindo respeito e veneração. Há um gosto na alma brasileira por bispos, catedrais, pompas, rituais. Só assim consigo entender a aceitação generalizada por parte dos próprios evangélicos de bispos e apóstolos autonomeados, mesmo após Lutero ter rasgado a bula papal que o excomungava, queimando-a na fogueira. A doutrina reformada do sacerdócio universal dos crentes e a abolição da distinção entre clérigos e leigos ainda não permearam a cosmovisão dos evangélicos no Brasil, com poucas exceções.
Um dos requisitos para o apostolado no Novo Testamento é ser testemunha da ressurreição de Cristo (At 1:21-22). Todos os apóstolos viram o Cristo ressurreto, inclusive Paulo (1Co 15:5-8). Não tiveram visão, sonho ou revelação, mas de fato Cristo lhes apareceu pessoalmente no corpo da ressurreição – inclusive a Paulo no caminho de Damasco (1Co 9:1). O cristianismo histórico sempre entendeu que Paulo foi o último (João na ilha de Patmos esteve diante de uma visão, e não de uma aparição física do Cristo ressurreto, cf. Ap 1:12-16). Além disso, os apóstolos foram capacitados para operar sinais e prodígios dos quais não vemos correspondentes hoje (2Co 12:12). Por último, foram dotados de inspiração e infalibilidade para escrever a Bíblia. Por esse motivo são chamados “fundamentos da Igreja”, assim como os profetas do Antigo Testamento (Ef 2:20).
Na verdade, o termo “apóstolo” significa basicamente “enviado” e há quem, além dos Doze e de Paulo, tenha recebido esse título na Bíblia, como Silas e Barnabé (At 14:14; 2Co 8:23). Porém, os modernos autodenominados apóstolos se entendem como na mesma categoria dos Doze e de Paulo. Contudo, os Doze e Paulo estão numa categoria à parte, não tendo nomeado sucessores. Quem sempre se achou sucessor dos apóstolos foi o papa. É somente o ranço católico na alma evangélica que permite que tais autodenominados apóstolos tenham sucesso em nosso meio.
2.             A ideia de que pastores são mediadores entre Deus e os homens. No catolicismo, a igreja é mediadora entre Deus e os homens e transmite a graça divina mediante os sacramentos, as indulgências, as orações. É através dos sacerdotes católicos que essa graça é concedida, pois são eles que, com suas palavras, transformam na missa, o pão e o vinho no corpo e no sangue de Cristo; que aplicam a água benta no batismo para remissão de pecados; que ouvem a confissão do povo e pronunciam o perdão. Em alguns casos, o padre é visto como “outro Cristo”, um canal de mediação entre o rebanho e Deus. 
Essa noção de mediação humana passou para os evangélicos com poucas alterações.
Até nas igrejas chamadas históricas os crentes brasileiros agem como se a oração do pastor fosse mais poderosa que a deles, considerando-o um mediador entre eles e os favores divinos. Esse ranço católico vem sendo cada vez mais explorado por setores neopentecostais do evangelismo, a julgar por práticas já assimiladas como “a oração dos 318 homens de deus”, “a prece poderosa do bispo Fulano”, “a oração de poder da irmã sicrana, que é profetisa” etc.
3.             O misticismo supersticioso no apego a objetos sagrados. O catolicismo no Brasil, por sua vez influenciado pelas religiões afro-brasileiras, semeou misticismo e superstição durante séculos na alma nacional, enaltecendo milagres de santos, posse de relíquias, aparições de Cristo e de maria, unção e santificação de objetos, agua benta, entre muitos outros. Hoje, há um crescimento espantoso entre setores evangélicos do uso de copo d´água, rosa ungida, sal grosso, pulseiras abençoadas, pentes santos do kit de beleza da rainha Ester, peças de roupas de entes queridos, oração no monte e no vale, óleos de oliveiras de Jerusalém, água do Jordão, sal do vale do Sal, trombetas de Gideão, cajado de Moisés... A imaginação dos líderes e a credulidade do povo são ilimitadas. Um amigo meu contou ter presenciado práticas estranhas como venda de pedaços do salmo 23 para a preparação de um chá que cura vícios, gente que dorme com uma Bíblia debaixo do travesseiro com a alegação de garantir bons sonhos e páginas ungidas por “apóstolo” que são vendidas para serem colocadas nas paredes das casas dos crentes, entre outras coisas. Um outro mencionou evangélicos que guardam “patuás”, “amuletos”, “sal e alho” dentro de recipientes em suas casas, assim como os adeptos do candomblé, para se livrar dos “maus espíritos”.
Esse fenômeno só pode ser explicado, a meu ver, por um gosto intrínseco pelo misticismo impresso na alma católica dos evangélicos.
4.             A separação entre sagrado e profano. No centro do pensamento católico existe a distinção entre natureza e graça idealizada e defendida por Tomás de Aquino um dos mais importantes teólogos da Igreja Católica. Talvez Aquino não pretendesse separar natureza e graça, apenas propor uma distinção entre ambos os conceitos. Mal compreendido ou não, na prática, sua distinção contribuiu significativamente para a aceitação de duas realidades coexistentes, antagônicas e frequentemente irreconciliáveis: o sagrado, substanciado na Santa Igreja, e o profano, que é tudo o mais no mundo lá fora. Os brasileiros aprenderam durante séculos a não misturar as coisas: sagrado é aquilo que a gente vai fazer na Igreja: assistir à missa e se confessar. O profano – meu trabalho, meus estudos, as ciências – permanece intocado pelos pressupostos cristãos, separado de forma estanque.
É provável que essa visão dicotômica da vida anteceda o catolicismo romano, tendo origem no gnosticismo. Catolicismo e gnosticismo têm muito em comum, como a visão dicotômica de realidade representada na oposição entre matéria e espírito. Como o gnosticismo é mais antigo, deve ter entrado na cultura católica medieval incipiente através do paganismo que infestou as fileiras da Igreja a partir do século IV. Por volta da mesma época, surgem os mosteiros, caracterizando a busca da espiritualidade que consistia, em parte, no ascetismo que sufocava a matéria para que o espírito pudesse libertar-se.
Hoje, os evangélicos parecem partilhar a mesma visão. Falta-nos uma mentalidade que integre a fé às demais áreas da vida, conforme a visão bíblica de que tudo é sagrado. Por exemplo, na área da educação, temos por séculos deixado que a mentalidade humanista secularizada, permeada de pressupostos anticristãos, eduque nossos filhos, do ensino fundamental até o superior, com algumas exceções: em outros países, os evangélicos têm tido mais sucesso em manter instituições de ensino que, além de serem tão competentes como as outras, oferecem uma visão de mundo, de ciências, de tecnologia e da história oriunda de pressupostos cristãos. Numa cultura permeada pela ideia de que o sagrado e profano, a religião e o mundo, são dois reinos distintos e frequentemente antagônicos, não há como visão integral surgir e prevalecer a não ser por uma profunda reforma de mentalidade entre evangélicos.
5.             Somente pecados sexuais são realmente graves. A distinção entre pecados mortais e veniais feito pelo romanismo católico vem permeando a ética brasileira há séculos. Segundo essa distinção, pecados considerados mortais privam a alma da graça salvadora e a condenam ao inferno, enquanto os veniais, como o nome já indica, são mais leves e merecem somente castigos temporais. A nossa cultura se encarregou de preencher as listas dos mortais e dos venais. Dessa forma, enquanto se pode aceitar a “mentirinha”, o jeitinho, o tirar vantagem, a maledicência etc., o adultério se tornou imperdoável. O presidente Lula foi se tivesse ocorrido uma denúncia de escândalo sexual, tenho dúvidas de que teria sido reeleito, ou de que teria sido reeleito por uma margem tão grande. Nas igrejas evangélicas – onde se sabe que, segunda a Bíblia, todo pecado é odioso e quem guarda toda a lei de Deus e quebra um só mandamento é culpado de todos – é raro que alguém seja disciplinado, corrigido, admoestado, destituído, ou despojado, por pecados como mentira, preguiça, orgulho, vaidade, maledicência, entre outros. As disciplinas eclesiásticas objetivam via de regra pecados de natureza sexual, como adultério, prostituição, fornicação, adição à pornografia, homossexualidade etc. embora até mesmo esses estão sendo cada vez mais aceitáveis aos olhos evangélicos. Mais um resquício de catolicismo na alma dos evangélicos?
O que é mais surpreendente é que os evangélicos no Brasil estão entre os mais anticatólicos do mundo. Só para ilustrar (e sem entrar no mérito da polemica), o Brasil é um dos poucos países no qual convertidos do catolicismo são rebatizados nas igrejas evangélicas. O anticatolicismo brasileiro, todavia, concentrou-se apenas na questão das imagens e de Maria, e em questões éticas como não fumar, não beber e não dançar. Não foi e não profundo o suficiente para fazer uma crítica mais completa de outros pontos que, por anos, vêm moldando a mentalidade do brasileiro, como mencionado. Além de uma conversão dos ídolos e de Maria a Cristo, os brasileiros evangélicos precisam de conversão na mentalidade, na maneira de ver o mundo. Temos que trazer cativo a Cristo todo pensamento e não somente os nossos pecados. Nossa cosmovisão precisa também de conversão (2Co 10:4-5).
Quando vejo o apego de grandes massas ditas evangélicas às práticas medievais católicas – de objetos ungidos e consagrados para o culto a deus, busca por bispos e apóstolos, recurso a práticas supersticiosas –, pergunto-me se, ao final das contas, o neopentecostalismo brasileiro não é, na verdade, um filho da Igreja Católica medieval, uma forma de neocatolicismo tardio que surge e cresce em nosso país onde até os evangélicos têm alma católica.

Um dos efeitos mais destrutivos dessa mentalidade romanista é que pavimentou em vários aspectos o caminho para a entrada do liberalismo em vários aspectos o caminho para a entrada do liberalismo teológico no cenário evangélico. Pois o ponto central dessa mentalidade é, em última análise, o enfraquecimento das escrituras como a Palavra de Deus, a única regra de fé e prática. A autoridade e a mediação dos bispos e apóstolos, o uso de objetos ungidos como pontos onde fé se apoia, a ênfase em determinados pecados em detrimento de outros igualmente condenados na Bíblia serviram para enfraquecer a autoridade das escrituras dentro do evangelismo. Assim, o catolicismo preparou os evangélicos para aceitarem outra fonte de autoridade além da Bíblia. Nesse contexto, a tarefa dos liberais, de desacreditá-la sutilmente como a infalível e autoritativa Palavra inspirada de Deus, tornou-se mais fácil, relativizando seu sentido e expurgando-a de seu caráter normativo.


1. Philosophia Libera: Christian Faith And The Freedom of Science, Amsterdam: Tyndale Press, Published for the Research Scientists’ Christian Fellowship.

LOPES, Augustus Nicodemus. O que estão fazendo com a Igreja: Ascensão e queda do movimento evangélico brasileiro. São Paulo: Mundo Cristão, 2008, p. 25-31.

segunda-feira, 20 de julho de 2015

CINCO PECADOS QUE AMEAÇAM OS CALVINISTAS - por Solano Portela

Introdução

O Que é Calvinismo?

Quando nós nos referimos a calvinismo, estamos falando daquela compreensão da mensagem das Escrituras Sagradas que conclui que Deus é soberano sobre todas as coisas. (1)

A Palavra de Deus foi habilmente estudada e assim exposta por João Calvino, seguindo as pegadas de Agostinho e do apóstolo Paulo. Nos escritos de Calvino temos não novas doutrinas, mas o ensino cristalino, procedente da Bíblia, de várias doutrinas da fé cristã que refletem essa soberania de Deus em todos os aspectos da nossa vida. Esta compreensão tem sido às vezes rotulada de As Doutrinas da Graça e resumida nos conhecidos Cinco Pontos do Calvinismo. (2)

Ela esteve presente nos escritos e ensinamentos dos grandes expoentes da Reforma do Século XVI, e é encontrada nas históricas confissões do período, inclusive na Confissão de Fé de Westminster, adotada pela Igreja Presbiteriana do Brasil. Aqueles que aceitam que a Bíblia apresenta com essa perspectiva a pessoa de Deus, e as limitações conseqüentes do homem, têm sido chamados de calvinistas, entre os quais nos incluímos.

Esclarecimentos Sobre o Tema

Alguns podem pensar que vamos lidar com “Os Cinco Pecados do Calvinismo”. Apesar dessa idéia possivelmente trazer entusiástica reação de aprovação da parte de certos setores da igreja, quero esclarecer que não estaremos tratando dos “Pecados do Calvinismo” nem iremos escrever contra o calvinismo. Nossa preocupação é com os pecados que ameaçam os calvinistas. Esses, vale esclarecer, não são pecados que caracterizam os calvinistas. Eles podem ser encontrados em muitos campos de persuasão cristã e, nesse sentido, o alerta é generalizado. Nossa preocupação é, entretanto, a de que os calvinistas não se considerem imunes a esses perigos pois os pecados que vamos mencionar também representam séria ameaça ao seu testemunho como cristãos eficazes na Igreja de Deus.

É importante ressaltar, em adição, que o nosso tema não é “Os Cinco Pecados que Ameaçam os Calvinistas”. Infelizmente existem mais de cinco pecados que nos ameaçam, mas, com a graça de Deus, vamos abordar apenas cinco destes e não todos eles. As pessoas que compartilham uma apreciação pelo calvinismo representam um solo fértil a esse estudo, o qual procede de um intenso desejo de que, como calvinistas, sejamos conhecidos tanto pelas nossas firmes convicções como pela ampla demonstração do Fruto do Espírito em nossas vidas.

Pecados que Não Abordaremos

O Intelectualismo Estéril

A nossa tentativa é a de dar um passo além de alertar aos perigos do intelectualismo estéril. Parece-nos que muitos avisos já foram soados a este respeito. Registro, como exemplo, um artigo na revista Banner of Truth no qual W. J. Seaton diz:

Nosso sistema educacional está próximo de educar pessoas acima de sua inteligência e nossa igrejas reformadas devem ter cuidado para não produzir novas gerações educadas teologicamente acima do nível de sua espiritualidade… Podemos ter uma geração que abraça o status da fé reformada mas que nunca se acha confrontada com o estigma de ser merecedora das chamas do inferno, salva apenas pelo exercício da livre graça de Deus, tão claramente expostas pelo calvinismo.(3)

Esse é o alerta contra o intelectualismo estéril que, em algumas ocasiões, encontramos em nosso meio. Devemos ter pleno convencimento que não existe aquilo que é chamado de ortodoxia morta, pois ela é nada mais, nada menos, do que heterodoxia viva. Que Deus nos preserve de retirar a vida de sua mensagem e ensinamentos.

Pecados relacionados com caráter pessoal

Não vamos, em adição, tratar de pecados ou atitudes pessoais, como: avareza, egoísmo, maledicência e outras situações pecaminosas, das quais oramos para que Deus nos livre sempre. Nossa proposição, portanto, é a de examinar alguns pecados adicionais que, corporativamente, podem estar rondando os calvinistas e que podem prejudicar tanto a nossa vida espiritual, quanto a de outros. Geralmente estes pecados ocorrem a partir de distorções de nossas próprias e corretas persuasões. É Satanás, utilizando a alavancagem dessas convicções, procurando confundir os nossos corações, objetivando levar a ruína, de uma forma toda especial, a fé reformada que tanto desejamos propagar e vê-la aceita.

1. O pecado do Orgulho Espiritual

Definindo Orgulho Espiritual

O primeiro pecado que procuraremos examinar é o pecado do orgulho espiritual. Poderíamos definir o orgulho espiritual como sendo uma atitude de desprezo aos outros irmãos. Seria abrigar a sensação de se achar possuidor de uma visão superior. Seria o desenvolvimento de uma atitude de rejeição do aprendizado, contrária à humildade que Deus requer dos seus servos. Seria achar que se é conhecedor de uma faceta de compreensão que os demais irmãos ainda não alcançaram.

A Tendência de se Criar uma Hierarquia dos Salvos

A natureza humana pecadora carrega para o seio da comunidade cristã o orgulho espiritual sob diversas formas. Uma tendência sempre latente na Igreja através da história foi a de subdividir a dicotomia estabelecida pela Bíblia, na divisão das pessoas. Com relação ao posicionamento perante o criador, todos estão subdivididos em salvos ou perdidos; crentes ou descrentes; os que receberam a fé por dom de Deus ou aqueles sem fé que se encontram no caminho da perdição.

Ocorrências ao Longo da História da Igreja

O renitente orgulho espiritual tem gerado muitos movimentos dentro da Igreja que acrescentam uma terceira categoria de pessoas, no que diz respeito ao status espiritual dos homens perante Deus: os sobrenaturalmente agraciados com um fenômeno fora do comum, que difere e está além do ato soberano de Deus da salvação.

Se fizermos uma rápida viagem ao longo da história da igreja, veremos que estamos confrontando uma das mais sérias demonstrações da natureza humana caída e que Satanás sutilmente traz, em ondas intermitentes, ao seio da igreja para perturbar o relacionamento dos fiéis.

Os Gnósticos e o Orgulho Espiritual na Igreja Neotestamentária

Mesmo no início de sua história neotestamentária, a Igreja experimentou uma “cristianização” da heresia secular gnóstica, que afirmava certos patamares de conhecimento serem misteriosamente propriedade de uns poucos. Esses protognósticos “cristãos” do primeiro século cresceram e tornaram-se uma força destrutiva dentro das igrejas.

No segundo século da era cristã o movimento gnóstico já havia atingido “grandes proporções”.(4) Os gnósticos dividiam os crentes entre os que possuíam conhecimento espiritual apenas rudimentar e aqueles que possuíam o verdadeiro conhecimento (gnosis), velado aos demais. Encontramos presente a tríplice divisão: (1) os descrentes, (2) os crentes rudimentares e (3) os crentes iluminados.

Os Alegoristas e o Orgulho Espiritual

No terceiro século os alegoristas dividiram os crentes entre aqueles que entendiam o sentido mais espiritual e profundo das passagens e aqueles que não conseguiam penetrar além do significado literal do texto. Orígenes, grande expoente da Escola de Alexandria, mas um dos proponentes do alegorismo, ensinava, na realidade, que a Palavra de Deus possuía três sentidos: (1) o sentido comum, histórico—inteligível aos de mente simples; (2) o sentido espiritual—que se constituía na alma das Escrituras; e (3) o sentido perfeito—que representava um sentido espiritual mais profundo, possível de ser expresso somente por meio de alegorias. Mais uma vez uma subdivisão estranha ao conceito bíblico do estado espiritual das pessoas, é introduzida no ensinamento das igrejas, refletindo o desenvolvimento de orgulho espiritual.

Os Quakers e o Orgulho Espiritual

Na época dos puritanos tivemos o surgimento dos Quakers que declaravam-se possuidores de uma experiência fora do normal com o Espírito Santo. Uma constante, em suas pregações, era a procura pela “inner light” – luz interior, que declararia a perfeita vontade do Espírito a cada um na qual brilhasse. Com sua diferenciação dos “crentes comuns” eles representaram um novo surgimento da tão prejudicial divisão tríplice, evidência de orgulho espiritual.

A idéia do Crente Carnal e o Orgulho Espiritual

Pulando para época mais recente, até dentro do campo evangélico conservador fundamentalista, mesmo quando este ainda não havia se tornado quase todo pentecostal, foi gerada uma nova e superior categoria de crentes–o crente espiritual. Este seria aquele que deu o segundo passo de aceitação. Já havia aceito a Cristo como Salvador, mas, em um segundo passo e em uma segunda experiência, o aceita como Senhor. Essa aceitação do senhorio de Cristo faz com que ele se dissocie do crente carnal. Crentes carnais seriam aqueles que permanecem em um estágio inferior e primitivo de espiritualidade mantendo um comportamento virtualmente similar ao do descrente. Temos, novamente, o ensinamento da existência de três categorias de pessoas: os descrentes, os crentes carnais e os crentes espirituais.

As Experiências Pentecostais e o Orgulho Espiritual

O pentecostalismo, abrigou e renovou esta tendência dentro da igreja, dando-lhe novos rótulos, mas postulando uma hierarquia dos salvos estranha à Palavra de Deus. Ele trouxe à cena evangélica o inusitado e o extraordinário como sendo não apenas parte da realidade existencial, histórica e religiosa da Igreja, mas como objeto de anelo e desejo na vida individual de cada crente. Os ensinamentos do pentecostalismo deixaram a expectativa de que sem estas experiências algo estaria a faltar na vida do cristão. Era necessário se atingir um patamar superior, obter-se uma segunda bênção, elevar-se acima do nível do crente comum. Gerou-se assim uma hierarquia de crentes: os batizados vs. os não-batizados pelo Espírito Santo, ou, utilizando uma outra terminologia: os recebedores vs. os “ainda-carentes-de-uma-segunda-bênção”.

A questão da Cura Divina e o Orgulho Espiritual

A questão da cura divina, trazida pelo pentecostalismo, segue linhas paralelas semelhantes. Ela coloca os crentes em uma escala hierárquica, qualificando o seu cristianismo, fazendo uma divisão entre os que já atingiram um patamar de fé que é suficiente a torná-los recebedores de curas milagrosas vs. aqueles cuja fé é insuficiente ao recebimento destas bênçãos. Tais experiências estariam reservadas aos mais aquinhoados espiritualmente. Via de regra, formamos uma casta de orgulhosos espirituais que vivem a propagar as graças “alcançadas”, em função da sua fé.

O Perigo do “gnosticismo reformado”

Com tantas recaídas, de segmentos diversos da igreja cristã, no mesmo problema, o meu ponto é que nós calvinistas precisamos nos guardar para não seguirmos esta trilha tão repisada na história da igreja. Não podemos nos considerar imunes ao desenvolvimento de uma atitude de que “nós reformados” somos os iluminados, únicos entendedores das verdades divinas que se encontram veladas à grande parte dos crentes comuns, a não ser que recebam a explicação lógica e incontestável de nossa parte. Muitos calvinistas têm se deixado levar pela síndrome da descoberta da pólvora, passando a demonstrar o mais evidente orgulho espiritual, no relacionamento com os irmãos, prejudicando o testemunho da fé reformada.

Um Exemplo de Como o Orgulho Pode Tomar Conta de Nós

Vou citar o que me disse um grande amigo meu, e não gostaria que entendesse que eu o estou acusando de orgulho espiritual. Faço a citação apenas como exemplo de como devemos nos guardar, porque às vezes imperceptivelmente, estamos nos colocando, como calvinistas, numa casta especial de iluminados, cujo resultado será o desenvolvimento desse tão perigoso orgulho espiritual do qual devemos fugir. Após haver lido extensivamente vários trabalhos sobre justificação e de ter ouvido uma brilhante exposição desta doutrina, dentro da perspectiva bíblica/reformada, ele me disse: “Estou impressionado e chegando à conclusão de que ninguém sabe na realidade o que é a justificação…” Continuando, disse: “o nosso povo não tem a mínima idéia do que significa ser justificado.”

Notem que essas palavras foram ditas não com orgulho, mas com humildade e profunda admiração pelo trabalho de Cristo, mas quero chamar atenção para o fato de que essa apreensão doutrinária, e até essa apreciação das doutrinas da graça, traz em si a semente latente e destruidora que pode germinar, sem muito esforço, em orgulho espiritual. Minha resposta, na ocasião, foi: “Sabem, meu irmão, elas sabem sim. Se uma pessoa foi realmente resgatada pelo precioso sangue de Cristo ela sabe experimentalmente o que é justificação”.

A Experiência da Graça de Deus

Não estou colocando experiência acima da revelação escriturada, mas estou fazendo uma distinção entre saber o que é, e saber realizar uma exposição lógica, sistemática e detalhada de uma doutrina. Não podemos nunca cair no engano de que a ignorância espiritual é algo que será arraigado pela visão que temos da soberania de Deus. Não podemos nunca menosprezar a simplicidade dos crentes comuns, resgatados que foram por Cristo Jesus, pelo Deus soberano que todos amamos, predestinados desde a fundação do século, separados para a glória do Deus todo poderoso. Eles sabem o que é justificação, mesmo que nunca tenham ouvido falar de Lutero e Calvino, mesmo que não consigam dizer os cinco pontos do calvinismo, mesmo que não consigam explicar o que é justificação. O Deus poderoso que salva, o faz soberanamente, não dependendo da perspicácia, lógica ou inteligência do escolhido.

O Exemplo do Cego de Jericó

Temos que nos mirar no exemplo do cego curado por Jesus, em João 9. Ele não sabia muitas coisas. Havia discernido autoridade, nas palavras de Jesus, por isso fez o que ele mandou e o classificou como “profeta” (v. 17). Não sabia, entretanto, a razão da sua cura. Não sabia a procedência ou o destino do soberano que o curara (Vs. 12 e 25). Além do lodo com o qual havia sido untado, não sabia, obviamente, explicar como fora curado (vs. 11 e 27). Uma coisa porém ele sabia e isso lhe era suficiente naquela ocasião: “uma cousa sei, eu era cego e agora vejo”.

Razões Para Nossa Ampla Comunhão

Por que podemos ter comunhão genuína com aqueles que não são calvinistas? Porque se verdadeiramente salvos, somos irmãos, filhos do mesmo Deus soberano. Porque apesar das inconsistências verificadas nas suas formulações teológicas, por mais que digam que a salvação foi fruto do pretenso “livre arbítrio” do homem; por mais que, em seus discursos, venham a inferir uma subordinação das ações de Deus a este “livre arbítrio”, quando se põem de joelhos e oram, oram a um Deus soberano que tudo pode, a um Deus que é tudo e oram a ele reconhecendo que nada são.

Incoerências Humanas

Temos que reconhecer que nós mesmos, como seres humanos falíveis, nunca somos totalmente coerentes com nossas premissas. Querem um exemplo? Sabemos da importância do Dia do Senhor, do domingo. Temos a convicção que neste dia devemos nos reunir e adorarmos o nosso Deus. A maioria de nós, aqui, nunca pensaria esquecer o nosso culto dominical para nos envolvermos em, vamos dizer, uma partida de futebol. Entretanto muitos de nós torcemos bastante por este ou aquele clube de futebol. Secretamente apoiamos tanto o divertimento quanto o ganha-pão naquele dia, ou pelo menos fechamos os olhos e estabelecemos um duplo padrão de comportamento: um para nós e para os nossos filhos e outro, desculpável, para aqueles por quem nós torcemos. Chegamos até a inventar uma categoria de cristãos, “os atletas de Cristo”, que sacramentaliza, cristianiza e justifica a atividade no domingo. Isto é: peça a nossa opinião e condenaremos o esporte dominical. Observe a nossa prática e condescendência e verificará uma aceitação tácita dos esportes praticados no Dia do Senhor. O que é isso? Incoerência humana, para sermos bem gentis, e Deus nos agüenta!

Por acaso achamos que poderemos encontrar total coerência entre o discurso e a prática nos demais cristãos? Digo isso apenas para reforçar que é bastante provável que venhamos a encontrar a fé genuína reformada em pessoas, mesmo quando o discurso externo estiver um pouco incoerente com a nossa fé reformada. Nunca devemos ser orgulhosos e menosprezadores daqueles que constituem a verdadeira igreja de Cristo, pela qual ele deu o seu sangue. Conclamando calvinistas a ter um comportamento cordato e humilde, o Rev. Ian Hamilton, da Escócia, disse: “A graça de Deus deveria adoçar nossas discordâncias. Existe um grande perigo de absolutizar a nossa forma de fazer as coisas. Devemos nos apegar àqueles que se apegam a Cristo”. (5)

O Amor que Aniquila o Orgulho

O apóstolo Pedro, escrevendo em sua primeira carta (1.22 e 23) nos fala do amor cristão que aniquila o orgulho. Neste trecho lemos: Tendo purificado as vossas almas, pela vossa obediência à verdade, tendo em vista o amor fraternal não fingido, amai-vos de coração uns aos outros, ardentemente, pois fostes regenerados, não de semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente.

A base deste amor é a regeneração comum (v. 23) que todos os cristãos têm em Cristo Jesus. Ele é também o nossos exemplo, pois no verso 17 lemos que ele julga “sem acepção de pessoas”, isto é, com equidade de tratamento. O amor comissionado no versículo 22 possui três características:
· É questão de obediência (“obediência à verdade”),
· Tem que ser sincero (“não fingido”) e
· Tem que ser intenso (“ardentemente”)

Tendo sido regenerados pelo Deus vivo e pela Palavra viva, de nada podemos nos orgulhar, nem mesmo da nossa compreensão de Deus e de Sua majestade, pois só dele procede a iluminação para o entendimento das verdades espirituais e ele deseja que sejamos caridosos e pacientes na instrução da Sua Palavra. Que Ele nos livre do pecado do orgulho espiritual.

2. O Pecado da Intolerância Fraternal

O Pós-modernismo e a Tolerância

Uma das características do pós-modernismo é a excessiva tolerância impingida a todas as opiniões, ou o que poderíamos chamar de relativização das verdades. Como brilhantemente já expôs o Dr. Héber Carlos de Campos,(6) o pós-modernismo caracteriza-se pelo pluralismo de idéias e pela premissa que nenhuma verdade é a “verdade verdadeira” e que temos que ser tolerantes, ou politicamente corretos, com todos os pontos de vista. Como calvinistas acreditamos estarmos firmados na verdade, não em uma verdade sujeita à compreensão subjetiva de cada um. Essa verdade é proposicional, objetiva, não-contraditória e inquestionável pois procede de revelação da parte de Deus ao homem, representada pelas inerrantes Escrituras Sagradas - a Bíblia.

Pode parecer estranho, conseqüentemente, que estejamos classificando intolerância como pecado, quando nossa própria compreensão das verdades bíblicas nos impele em direção contrária ao pós-modernismo, exigindo a nossa intolerância. Devemos fazer uma diferenciação, entretanto, entre tolerância externa e a tolerância na fé, ou fraternal (entre irmãos da mesma fé). Nesse sentido, o próprio Heber Campos declara: “Devemos ser politicamente corretos quando a verdade não está em jogo”. (7)

Intolerância vs. Intransigência

Nesse sentido, por uma questão de clareza, gostaria de propor que diferenciássemos as duas situações distintas, chamando a intolerância externa de intransigência. Assim, consideradas e verificadas a aceitação de certas verdades bíblicas, básicas e comuns, devemos ser tolerantes, mantendo, simultaneamente, a intransigência (intolerância externa).

Um dos grandes problemas que confrontamos é o de confundir intolerância com intransigência. Em muitas ocasiões somos intolerantes e chegamos a nos orgulhar disso, como se fosse uma marca necessária às nossas convicções teológicas. Definindo mais detalhadamente, intolerância fraternal, a atitude que não deveríamos ter, o pecado que deveríamos evitar, é: 
· Falta de amor no trato com os nosso irmãos;
· Falta de discernimento das questões prioritárias, do que é mais importante em nossa fé cristã.

O ensino de Paulo Sobre Tolerância Fraternal

Em Colossenses 3.12-16 temos ensinamento do apóstolo Paulo sobre a necessidade de demonstração de tolerância fraternal. Diz-nos o texto:

12. Revestí-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de coração compassivo, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade,
13. suportando-vos e perdoando-vos uns aos outros, se alguém tiver queixa contra outro; assim como o Senhor vos perdoou, assim fazei vós também.
14. E, sobre tudo isto, revestí-vos do amor, que é o vínculo da perfeição.
15. E a paz de Cristo, para a qual também fostes chamados em um corpo, domine em vossos corações; e sede agradecidos.
16. A palavra de Cristo habite em vós ricamente, em toda a sabedoria; ensinai-vos e admoestai-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais, louvando a Deus com gratidão em vossos corações.

A orientação de Paulo é precisa e inquestionável. Da mesma forma com que fomos perdoados e recebidos em extrema graça e tolerância, por nosso Senhor Jesus Cristo, assim também, seguindo o Seu exemplo, devemos desenvolver semelhante atitude e testemunho para com os nossos irmãos (v. 13). O sentimento que deve ser notado pelos circunstantes, é o amor, o qual, ele nos comissiona, deve ser nossa vestimenta (“revesti-vos” – v. 14). Esse estilo de vida é compatível e conduz à paz de Cristo (v. 15), gerando harmonia e ações de graças. Notem que, realisticamente, Paulo constata a possibilidade de diferenças de opiniões, situação em que é própria e cabível o ensino e a admoestação (v. 16). Tais diferenças devem ser tratadas com a palavra de Cristo, que deve habitar em nossos corações, resultando em amplo louvor ao nome de Deus.

Detalhando o Conceito de Intransigência

Não obstante, as advertências acima, existe campo para a intransigência que não é pecado. Dentro da definição que propusemos, intransigência seria, então: 
· zelo pela verdade
· compreensão das doutrinas prioritárias da Palavra de Deus

Intransigência é o contrário de transigir, ou seja ultrapassar os limites; quebrar as regras recebidas. Nesse sentido, intransigência deve ser característica de cada calvinista, de cada crente convicto das verdades bíblicas. Ele não pode abrir mão das doutrinas claras, declaradas na Palavra de Deus. Ele não pode ultrapassar os limites traçados por Deus.

O Ensino de Paulo sobre Intransigência

Um exemplo dessa atitude, que é correta e própria, é encontrado na pessoa de Paulo, conforme sua inspirada declaração, em Gálatas (1.6-10). Nesse trecho Paulo fala de crentes “não tão quentes” que estão desenvolvendo um ministério paralelo ao seu, indo de igreja em igreja, pregando. A reação de Paulo é bastante diferente daquela expressa na carta aos Filipenses 1.12-18, onde foi bastante benevolente e tolerante. Os dez primeiros versos da carta aos Gálatas dizem o seguinte:

1. Paulo, apóstolo (não da parte dos homens, nem por intermédio de homem algum, mas sim por Jesus Cristo, e por Deus Pai, que o ressuscitou dentre os mortos),
2. e todos os irmãos que estão comigo, às igrejas da Galácia:
3. Graça a vós, e paz da parte de Deus nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo, 
4. o qual se deu a si mesmo por nossos pecados, para nos livrar do presente século mau, segundo a vontade de nosso Deus e Pai, 
5. a quem seja a glória para todo o sempre. Amém.
6. Estou admirado de que tão depressa estejais desertando daquele que vos chamou na graça de Cristo, para outro evangelho, 
7. o qual não é outro; senão que há alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo.
8. Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos pregasse outro evangelho além do que já vos pregamos, seja anátema.
9. Como antes temos dito, assim agora novamente o digo: Se alguém vos pregar outro evangelho além do que já recebestes, seja anátema.
10. Porventura procuro eu agora o favor de homens, ou o de Deus? Ou procuro agradar a homens? Se agradasse ainda a homens, não seria servo de Cristo.

Nos versículos 1 a 5, Paulo fez a sua apresentação, indicando a sua autoridade apostólica, demonstrando que ela vem de Deus e não de homens. A carta foi primariamente dirigida à Igreja da Galácia, mas teve ampla circulação entre as demais igrejas. Paulo dá glória a Deus e indica que Jesus Cristo se deu por nós para nos livrar das maldades desta era, passando a tratar de um problema que estava surgindo naquela igreja: a aceitação de um evangelho adulterado.

No v. 6 ele mostra uma profunda perturbação interna – "estou assombrado", diz, demonstrando grande admiração que os membros daquela igreja estivessem mudando rapidamente de convicções. A afeição e a lealdade estava sendo colocada em outra doutrina, pois estavam dando ouvidos a "alguns" (v. 7) que perturbavam e queriam perverter o evangelho de Cristo. Pregavam um outro evangelho (grego: heteros-- distinção com o outro, do verso seguinte, que é allos. Aqui, heteros = ouk allo, ou seja diferente, “não outro”). Paulo referia-se, sem dúvida, aos judaizantes que pretendiam adicionar algumas coisas "palpáveis, visíveis", à simples pregação do evangelho. Quem sabe eles diziam que era apenas uma questão de método? Talvez fosse muito mais atraente, desse mais substância, ou talvez até, mais emoção ao evangelho. Estas pessoas se apresentavam com autoridade e se propunham a declarar o método de salvação. Paulo mantém a designação "evangelho" porque era apresentado como tal, mas na realidade, diz ele, não é evangelho nenhum (sistema diferente, mensagem diferente, doutrina diferente)!

No v. 8, Paulo dirige-se ao fundo do seu extenso vocabulário grego para classificar estas pessoas e lança uma fortíssima condenação. Independentemente de quem quer que seja: estas pessoas, ele próprio, ou até um anjo do céu—se vier trazer um evangelho que vá além (note que não era necessariamente diferente na aparência, mas com algumas coisas adicionadas) daquele que eles tinham previamente ouvido da parte dele, tal pessoa deveria ser considerada anátema (isto é: amaldiçoado). Estas palavras contêm uma terrível responsabilidade a nós que fomos comissionados a pregar e a transmitir as verdades de Deus.

Para que não pairasse qualquer dúvida sobre o seu zelo, sobre sua posição, ele repete mais uma vez as mesmas palavras, no versículo 9. Não quer ser mal-entendido, não quer deixar "passar em branco", não quer parecer precipitado - é um pensamento depurado e destilado sob o fogo do zelo e sob o direcionamento sobrenatural do Espírito Santo.

Podemos negligenciar o aviso contido e pensar que Paulo se referia somente à sua situação específica. Afinal, não temos mais judaizantes em nosso meio! Muitos de nós chegam a fazer, corretamente, a aplicação destas palavras à pregação da Igreja Católica Romana, com suas adições e condições anexadas à Graça salvadora de Cristo. Isto não basta, temos que analisar o que está acontecendo no campo chamado "evangélico". Tristemente iremos, em muitas ocasiões, encontrar a proclamação de "outro" evangelho.

Paulo poderia ter particularizado a questão, especificado quem ele combatia, mas quis o Espírito Santo, em sua soberania, deixar a colocação de forma genérica, de tal modo que o princípio fosse enfatizado — não podemos mexer com o cerne do evangelho.

Nesse sentido, devemos ser intransigentes porque, no versículo 11, ele coloca: “Faço-vos, porém, saber, irmãos, que o evangelho por mim anunciado não é segundo o homem; porque eu não o recebi, nem o aprendi de homem algum, mas mediante revelação de Jesus Cristo”. Eis a razão de Paulo para ter esta convicção: o evangelho não é doutrina de homens, mas sim revelação de Jesus Cristo. Ele contraria a perspicácia, os desejos e as motivações carnais do homem. Temos que ter a coragem de "remar contra a maré" e proclamar o puro Evangelho de Cristo, sendo intransigentes nisso.

Uma Demonstração de Tolerância, na Vida de Paulo

Na epístola aos Filipenses (1.12-18), Paulo mostrou-se bastante tolerante com relação àqueles que pregavam a Cristo até com o motivo errado, mas sem adulterar o conteúdo da mensagem. Não é que ele recomende a falta de sinceridade ou os motivos errados dos que se aproveitavam de suas cadeias para pregar, mas ele é surpreendentemente tolerante. No entanto, não há nenhuma menção, no trecho, de que houvesse distorção no conteúdo da mensagem. Paulo sabia analisar os detalhes, discernir as prioridades e se concentrar nas questões cruciais da fé cristã. Ele não temia ser conhecido e caracterizado por sua intransigência, quando o cerne do evangelho estava sendo adulterado. Entretanto, ele não queria ser classificado de intolerante, se este perigo estava ausente. Ele não queria ser “do contra” contra tudo, mas sim contra o que se merecia ser contra. A tolerância tem que ser uma atitude sempre presente em nossa vida para com aqueles irmãos com os quais temos algumas diferenças. A nossa intransigência deve se conter àquelas coisas que estão perturbando os pontos fundamentais do evangelho, mas a caridade cristã, o amor de Cristo, deve ser refletido em nossas atitudes, derramando-se sobre todos aqueles que foram resgatados pelo preciosos sangue de Cristo.

John Owen e Tolerância

Um dos maiores teólogos e expositores da Palavra de Deus que já existiu, o puritano John Owen (1616-1683), viveu em uma era retratada por muitos como uma época de intolerância. Owen era realmente intransigente, com relação às doutrinas cardeais do evangelho, mas, surpreendentemente, ele era extremamente tolerante com aqueles que não compartilhavam a sua interpretação da Palavra de Deus. Naquela ocasião ele era conselheiro de governantes e respeitado por esses. Não seria inusitado, para a época, valer-se de sua posição de influência para promover expurgos e perseguições religiosas. Muitos assim o fizeram. Owen, entretanto, proferiu vários sermões e escritos defendendo a tolerância e o tratamento amoroso da falta de entendimento de muitos.

Poderíamos dizer que Owen teve esta coragem de “remar contra a maré” da sua época, defendendo um tratamento meramente eclesiástico das questões religiosas, consciente de que o Senhor era o legítimo proprietário das consciências, a quem os homens haveriam de prestar contas por suas persuasões e convicções.

Em um de seus sermões ele retrata bem a intransigência de Paulo, quando declara: “Algumas coisas, na realidade, estão tão claramente estabelecidas nas escrituras e tão bem determinadas, que não é possível questioná-las ou negá-las”.(8) Owen continua, entretanto, e se posiciona em defesa da tolerância, refletindo uma atitude que, comparada com a nossa intolerância contumaz, deveria nos envergonhar, tamanha é a sua sensibilidade. Escreve ele:

…mas, geralmente, erros ocorrem em coisas de difícil compreensão, que não são tão claras e evidentes… Com relação a tais, é muito difícil classificá-las de heresias. A sensibilidade de nossos próprios males, falhas, incompreensões, escuridão e o nosso conhecimento parcial, deveria operar em nós uma opinião caridosa para com as pobres criaturas que, encontrando-se em erro, assim estão com os corações sinceros e retos, com postura semelhante aos que estão com a verdade. (9)

Em 1648 Owen pregou um extenso sermão no Parlamento Britânico, na Câmara dos Comuns, intitulado “Sobre Tolerância”, no qual defendeu, mais uma vez a demonstração do amor cristão e a não-intervenção dos poderes governamentais nas diferenças de opiniões eclesiásticas. (10)

A Tolerância de Cristo

O grande exemplo de tolerância, nos é fornecido pelo próprio Cristo. Em Mateus 20.20-28 lemos sobre o incidente onde Jesus recebe o pedido da mulher de Zebedeu, para que seus filhos (Tiago e João) tivessem lugar de proeminência no reino que Ele havia acabado de anunciar. Possivelmente possuída de um conceito errado sobre a natureza desse reino e pleiteando cargos de importância política, ela funda a instituição do “lobby governamental”. Com essa atitude, ela demonstra uma ampla falta de percepção espiritual, mas essa falha não era só dela. Seus filhos parecem apoiá-la e participar ativamente do pedido. Em sua resposta, Jesus diz que eles estão “por fora”, ou seja, “não sabem o que pedem”.

Depois de estarem por tanto tempo tão próximos a Jesus, ouvindo os Seus ensinamentos, podemos até pensar, como é que eles erraram o alvo dessa maneira? Como é possível que não se aperceberam da natureza espiritual do reino e da postura de servos que deveriam ter? Mas a situação é mais grave ainda, porque os outros dez, passaram a demonstrar igual atitude de inveja e ira, com relação àquele pedido inoportuno. Se eles estivessem imbuídos da atitude de servos, conscientes de que deveriam, cada um, “considerar os outros maiores do que a si mesmo”, certamente teriam dito a Jesus – “realmente, eles parecem ser bem qualificados para terem um lugar de importância no reino! Não nos importamos se eles forem nomeados”. Mas não, eles estavam, com certeza, pensando: “Por que eles, e não nós?” Repentinamente, depois de tantos ensinamentos, Jesus viu todos os Seus auxiliares imediatos, os homens com os quais deixaria a Sua igreja, envolvidos em uma disputa rasteira sobre cargos e influência pessoal… Como Ele deve ter se entristecido. Qual foi sua reação?

Registra o texto que Jesus, pacientemente, chamou a todos ao lado e passou a ensinar-lhes, mais uma vez, a natureza do Seu reinado espiritual, a verdadeira missão que lhes seria confiada. Que demonstração de amor e de tolerância com a falta de entendimento daqueles irmãos. Que exemplo de paciência, para nós, e que incentivo para que sejamos mais tolerantes e caridosos com os nossos irmãos. Que Deus nos livre do pecado da intolerância.

3. O Pecado da Acomodação no Aprendizado

Definindo a Acomodação

Acomodação no aprendizado, é quando atingimos um ponto no qual achamos que já dominamos todas as verdades, ou seus aspectos principais, e paramos de nos empenhar no estudo da palavra. Ficamos repisando as mesmas verdades desprezando a riqueza de conhecimento que nos espera na Palavra de Deus.

O Jovem – Presa Fácil desse Pecado.

Com freqüência encontramos a ocorrência desse pecado nos jovens que foram expostos e convencidos das realidades das Doutrinas da Graça. Após devorarem alguns livros, após aprenderem a formular e a discutir os “cinco pontos”, estacionam por aí. Acham, entretanto, que já dominaram tudo o que se pode saber, dedicando-se a grandes e extensas discussões, como se mestres fossem.

O Alerta aos Seminaristas

Em 04.10.1911, o grande teólogo norte-americano, Benjamin Breckinridge Warfield, foi comissionado a apresentar uma palestra no Princeton Theological Seminary sobre o tema: “A Vida Religiosa do Estudante de Teologia”. Para surpresa de alguns, ele falou pouco, inicialmente, sobre a parte devocional da vida de cada estudante, mas colocou extrema ênfase na necessidade do estudo. Disse ele: “…antes de ser erudito o ministro deve ser devotado a Deus, mas o mais grave erro é colocar estas coisas em contradição”. Continua ele: “…existe alguma coisa fundamentalmente errada na vida do estudante de teologia que não estuda”.(11)

É interessante notar como Warfield identifica a vida cristã espiritualmente rasa. Em sua correta visão ela é evidenciada pelo desprezo ao estudo, pela acomodação no aprendizado.

Os Alertas de Provérbios

O livro de Provérbios apresenta inúmeras exortações com relação à importância da sabedoria e, conseqüentemente, à dedicação ao estudo e ao aprendizado. Dois versos parecem retratar a nossa observação, de pessoas que se esmeram nas discussões com pouca profundidade de conhecimento. O primeiro é Provérbios 18.12, que diz: “O insensato não tem prazer no entendimento, senão em externar o seu interior”. Se estivermos com grande vontade de externarmos o nosso interior, vamos parar um pouco para meditação: muitas vezes, estamos mesmo é precisando de continuado aprendizado e instrução. O segundo verso é Provérbios 19.27, onde lemos: “Filho meu, se deixas de ouvir a instrução, desviar-te-ás das palavras do conhecimento”. O escritor inspirado do provérbio, pressupõe que o conhecimento foi apreendido e existe na vida do leitor (“filho meu”), mas ele soa um alerta para que não haja acomodação no aprendizado. O ouvir a instrução é uma ação contínua que nos preservará dos desvios do conhecimento.

Com certeza, não podemos nunca deixar que este pecado encontre guarida em nossa vida e nem que venhamos a nos acomodar sem meditação e sem estudo e conhecimento das verdades de Deus.

Pedro Fala aos Calvinistas

Em sua segunda carta (2 Pedro 1.3-11) Pedro traz uma palavra de grande importância aos calvinistas. O trecho diz:

3. Visto como pelo seu divino poder nos têm sido doadas todas as coisas que conduzem à vida e à piedade, pelo conhecimento completo daquele que nos chamou para a sua própria glória e virtude,
4. pelas quais nos têm sido doadas as suas preciosas e mui grandes promessas, para que por elas vos torneis co-participantes da natureza divina, livrando-vos da corrupção, das paixões que há no mundo.
5. Por isso mesmo vós, reunindo toda vossa diligência, associai com a vossa fé, a virtude; com a virtude, o conhecimento;
6. com o conhecimento, o domínio próprio; com o domínio próprio, a perseverança; com a perseverança, a piedade;
7. com a piedade, a fraternidade; com a fraternidade, o amor.
8. Porque, estas coisas, existindo em vós e em vós aumentando, fazem com que não sejais nem inativos, nem infrutuosos no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo.
9. Pois aquele a quem estas coisas não estão presentes é cego, vendo só o que está perto, esquecido da purificação dos seus pecados de outrora.
10. Por isso, irmãos, procurai, com diligência cada vez maior confirmar a vossa vocação e eleição; porquanto, procedendo assim, não tropeçareis em tempo algum.
11. Pois, desta maneira, é que vos será amplamente suprida a entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

Pedro enraíza no “divino poder” de Deus (v. 3) todas as questões pertinentes à nossa existência, tudo que é necessário e relacionado com o amor, bem como com o pleno conhecimento do próprio Deus. Não é que ele esteja apenas afirmando que Deus é a fonte, mas ele está ensinando que de Deus recebemos tudo, em plenitude. Com essa proposição ele reafirma a plena soberania de Deus até na aplicação do conhecimento. A seguir, Pedro nos indica que tudo isso representa o cumprimento das promessas de Deus para nós, representando, igualmente, um grande contraste com as corruções deste mundo (v. 4). Passa então a detalhar as áreas importantes da vida, que devem merecer a nossa concentração (vv. 5 a 7). Essas áreas são apresentadas num “crescendo” no qual a interligação de uma com a outra é demonstrada, cada uma sendo construída no alicerce previamente construído, sendo interdependentes (fé, virtude, conhecimento, domínio próprio, perseverança, piedade, fraternidade, amor). A demonstração dessas virtudes, em nossas vidas, não nos deixará ociosos, nem infrutíferos, nem com a visão obscurecida, mas nos trará ao pleno conhecimento de Cristo e não deixará que venhamos a nos esquecer do milagre da salvação – daquilo que Cristo fez para a purificação dos nossos pecados (vv. 8 a 9).

Estamos afirmando que a palavra é pertinente para os calvinistas, porque ao iniciar com o detalhamento dessas virtudes que procedem do poder de Deus e que por Sua agência são derramadas sobre nós, Pedro enfatiza: “…reunindo toda a vossa diligência” (v. 5). Isso significa que não existe lugar para acomodação no aprendizado. Mesmo que tudo isso esteja sob a abrangência da soberana vontade de Deus e intrinsecamente fazendo parte de Seus decretos, temos que procurar com diligência o conhecimento de Deus e a aplicação desse conhecimento em nossas vidas. Devemos nos esforçar e esperar que Deus, em sua divina providência, nos conceda o conhecimento do qual tanto necessitamos e as vidas santas que devem se seguir ao conhecimento da Sua pessoa e dos Seus caminhos.

Essa questão é tão importante para Pedro que ele, sob a divina inspiração do Espírito Santo, repete a admoestação, no verso 10, quando indica que devemos procurar, “com diligência cada vez maior” a confirmação da nossa vocação e eleição através da prática do conhecimento de Deus, que vem pela dedicação ao continuado aprendizado e pela conseqüente vida santa, que Ele requer de cada um de nós. Que Deus nos livre do pecado da acomodação no aprendizado de Suas verdades.

4. O Pecado da Falta de Ação

Uma Grave Distorção

Esse pecado tem muita relação com o pecado anteriormente mencionado e representa uma grave distorção da doutrina da soberania de Deus. Muitas vezes seguimos adquirindo conhecimento e profundidade na nossa fé, mas ficamos inativos e não temos colocado a nossa fé em prática – não temos a ação que deveríamos ter. Entendemos e nos convencemos das verdades que dizem respeito à soberania de Deus, mas indolentemente ficamos aguardando o cumprimento dos Seus decretos.

Falta de Compreensão da Responsabilidade Humana.

Esse pecado é aquele que leva calvinistas a cruzarem os braços, quando deveriam estar agindo, achando que Deus vai atuar de qualquer forma. É aquele pecado que faz com que a gloriosa doutrina da predestinação, em vez de ser alvo de admiração e humildade, seja utilizada como uma desculpa. É o pecado que evidencia a falta de compreensão do que é o ensinamento bíblico sobre a responsabilidade humana. Temos que nos mirar no exemplo de Paulo. Ele foi o magistral expositor das doutrinas da graça, escolhido para isso pelo Espírito Santo de Deus. Mesmo assim, ou melhor, precisamente pela sua completa compreensão da soberania divina e da responsabilidade humana, vemos Paulo trabalhando, lutando, sofrendo, escrevendo cartas, chegando a perder o sono, com o propósito de executar o serviço de Deus.

A “História” de um Casal Puritano

Lembro-me de uma ilustração que ouvi sobre um casal, da época dos puritanos. Por mais duvidoso que seja o relato, ele estimula o nosso pensamento sobre a atitude de pessoas com relação à questão da responsabilidade humana. Conta-se que um puritano, na Nova Inglaterra, habitava com sua família em uma cabana no meio da floresta, distante de tudo e de todos, cuidando apenas dos campos plantados, em clareiras abertas no meio da floresta. Certo dia teve que sair de sua cabana para ir ao vilarejo, atravessando aquela floresta infestada de ursos ferozes, que atacavam animais e pessoas. O puritano colocou a sua melhor roupa preta e começou a se preparar para a jornada. Ao chegar perto da porta de saída, ele estendeu a mão e pegou sua espingarda, verificando se estava carregada. Nesse momento sua esposa exclamou!

– Não entendo essa sua preocupação com a espingarda, porque se você estiver predestinado a ser devorado por um urso, será devorado por ele; mas se estiver predestinado a chegar ao vilarejo em segurança, assim chegará! Deixe essa arma aí!

O puritano voltou-se à esposa, e com toda longanimidade que lhe era habitual, respondeu:

– Ó mulher! E se eu encontrar um urso que esteja predestinado a levar um tiro da minha espingarda e eu estiver sem ela, como é que eu vou fazer?

Podemos rir com a história, mas muitas vezes estamos, em nossas vidas, retratando aquela atitude da mulher daquele puritano. Com freqüência, passamos a descansar indevidamente na soberania de Deus, quando Ele está colocando as coisas na nossa frente, requerendo, de nós, alguma ação.

Temos que nos conscientizar que vivemos sob a égide da vontade decretiva de Deus, mas no conhecimento e sob a diretriz clara de sua vontade prescritiva. Nela, conforme expressa nas Escrituras, temos tudo o que precisamos saber para agirmos responsavelmente, da forma como Ele quer que venhamos a agir.

Um exemplo prático de Paulo

Talvez a maior confirmação prática, de como Paulo conjugava esses dois lados da moeda, da soberania divina e da responsabilidade humana, é encontrado em Atos 27, no relato do naufrágio que sofreu, a caminho de Roma. Principalmente os versículos 22 a 44.

Uma das dramáticas declarações de Paulo, no meio da tempestade que precedeu o naufrágio, é que nenhuma vida iria se perder! Ele afirma esse prognóstico com tanta segurança porque o anjo de Deus lhe dissera isso. Paulo era possuidor, nesse evento, de um conhecimento específico, por revelação. No auge da época apostólica ele recebe esta revelação, que todos aqueles no navio seriam preservados. Ninguém iria se perder, pois Deus tinha outros propósitos. Assim, com uma determinação tão clara, Paulo transmite com toda segurança a informação recebida – apesar de todos estarem temerosos, as vidas seriam poupadas, no meio da feroz tempestade. Notemos, entretanto, que Paulo não fica de braços cruzados, dormindo, esperando a milagrosa preservação de todos. Pelo contrário – encontramos Paulo ativo, dialogando e persuadindo ao centurião que era necessário que aqueles que procuravam safar-se do barco, voltassem ao navio. Paulo manda que se alimentem, para ficarem fortes, apesar de saber que Deus iria salvar a todos, mesmo em jejum. Ele estava ali cumprindo as suas responsabilidades, aquelas que foram colocadas por Deus perante ele. Paulo andava passo a passo, sob a vontade prescritiva do Senhor. Depois que todas as 270 pessoas que se encontravam a bordo se alimentaram, passaram a fazer o que estava à frente para ser feito: aliviaram o navio, lançando a carga ao mar. Diz-nos o verso 44 que “foi assim que todos se salvaram em terra”.

A plena consciência e convicção da soberania de Deus, na vida de Paulo, nunca o levou a ser vítima do pecado da falta de ação. Que este pecado nunca esteja presente em nossas vidas, mas que, como Paulo, estejamos andando passo a passo debaixo da vontade prescritiva de Deus, revelada nas Sagradas Escrituras. Que possamos, como calvinistas, ser confiantes na soberania de Deus, mas também que estejamos engajados nas Suas verdades, na Sua obra e na Sua palavra.

5. O pecado do isolamento

Viver no Passado ou Estudá-lo?

O isolamento é um pecado que está sempre a nos rondar. O calvinista verdadeiro não é aquele que vive no passado mas o que procura aplicar as doutrinas bíblicas reveladas à sua situação, ao seu contexto. O seu apreço pela história e pelos reformadores não procede de um interesse meramente “arqueológico”.

A Abordagem do Antiquário

Martin Lloyd-Jones nos alerta para um perigo que existe dentro do interesse pelos acontecimentos que marcaram a Reforma e nossa herança puritana. Na realidade, ele nos confronta com uma forma errada e uma forma certa de relembrar o passado, do ponto de vista religioso. (12)

A forma errada, seria estudar o passado por motivos meramente históricos. Esse estudo seria semelhante à abordagem que um antiquário dedica a um objeto. Por exemplo, quando ele examina uma cadeira, ele não está interessado se ela é confortável, se dá para se sentar bem nela, se ela cumpre adequadamente a função de cadeira. Basicamente a preocupação se resume à sua idade, ao seu estado de conservação e, principalmente, a quem pertenceu. Isto determinará o valor daquele objeto para ele e, conseqüentemente, o seu estudo é motivado por esta visão. O estudo errado da história ocorre, muitas vezes, em função dessa abordagem do antiquário.

O Alerta de Jesus, Registrado por Mateus

Em Mateus 23.29-35 teríamos um exemplo desse apreço errado pelo passado. O trecho diz:

Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque edificais os sepulcros dos profetas e adornais os monumentos dos justos, e dizeis: Se tivéssemos vivido nos dias de nossos pais, não teríamos sido cúmplices no derramar o sangue dos profetas. Assim, vós testemunhais contra vós mesmos que sois filhos daqueles que mataram os profetas. Enchei vós, pois, a medida de vossos pais.
Serpentes, raça de víboras! como escapareis da condenação do inferno? Portanto, eis que eu vos envio profetas, sábios e escribas: e a uns deles matareis e crucificareis; e a outros os perseguireis de cidade em cidade; para que sobre vós caia todo o sangue justo, que foi derramado sobre a terra, desde o sangue de Abel, o justo, até o sangue de Zacarias, filho de Baraquias, que mataste entre o santuário e o altar.

Jesus diz que aquelas pessoas pagavam tributo à memória dos profetas e líderes religiosos do passado. Eles prezavam tanto a história, que cuidavam e enfeitavam os sepulcros. Proclamavam a todos que os profetas eram homens bons e nobres e atacavam quem havia rejeitado os profetas. Diziam eles: “se estivéssemos lá, se vivêssemos naquela época, não teríamos feito isso!” Mas Jesus não se impressiona e os chama de hipócritas! A argumentação de Jesus é a seguinte: Se vocês se dizem admiradores dos profetas, como é que estão contra aqueles que representam os profetas e proclamam a mesma mensagem que eles proclamaram? Ele testa a sinceridade deles pondo a descoberto a atitude no presente para com aqueles que hoje pregam a mensagem de Deus e mostra que eles próprios seriam perseguidores e assassinos dos proclamadores da mensagem dos profetas.

O Nosso Teste

Esse é também o nosso teste: uma coisa é olhar para trás e louvar homens famosos, mas isso pode ser pura hipocrisia se não aceitamos, no presente, aqueles que pregam a mensagem de Lutero e de Calvino. Somos mesmo admiradores da Reforma, daqueles grandes profetas de Deus? Se não aplicamos na vida prática as doutrinas reformadas o nosso interesse é apenas o de antiquários. Estamos promovendo e encorajando o pecado do isolamento, com esse tipo de visão da história?

A forma correta de relembrar o passado

Mas existe uma forma correta de relembrar o passado. Deduzimos esta não apenas por exclusão e inferência do texto anterior mas por que temos um trecho na Palavra de Deus—Hebreus 13.7-8, que diz: “Lembrai-vos dos vossos guias, os quais vos pregaram a palavra de Deus, e, considerando atentamente o fim da sua vida, imitai a fé que tiveram. Jesus Cristo é o mesmo, ontem, e hoje, e eternamente.”

As doutrinas são de Cristo. Ele e os seus ensinamentos, são os mesmos ontem, hoje, e eternamente. A maneira correta de relembrar a Reforma é, portanto, verificando a mensagem, a palavra de Deus, como foi falada, e isso não apenas por um interesse histórico de “antiquário” mas para que possamos imitar aquela fé demonstrada. Devemos observar aqueles eventos e aqueles homens, para que possamos aprender deles. Vamos verificar como eles aplicaram as doutrinas eternas aos seus dias e vamos seguir os seus exemplos discernindo a essência da sua mensagem e aplicando-a aos nossos dias.

Deus é Sempre Contemporâneo em Seu Falar

Não podemos, portanto, viver num mundo isolado, demonstrando falta de aproximação com a nossa igreja, com os nossos irmãos, com o nosso povo, com a nossa realidade.

Hebreus 1.1-4 mostra que Deus fala de forma diferente a tempos diferentes. O cerne da mensagem não muda. Nos nossos dias, a revelação escriturada está completa e não estamos defendendo a existência de novas revelações. Entretanto, reconhecemos que Deus sempre demonstrou querer falar com o homem nos seus termos. Na Palavra de Deus temos os muitos antropomorfismos – descrições figurativas da pessoa de Deus, em características de homem. Isso é um exemplo de como Deus condescende em chegar até o homem.

Paulo enfatiza a necessidade da comunicação eficaz, indicando que fez-se fraco, para os fracos; judeu, para os judeus; e gentio, para os gentios (1 Co 9). A linguagem das escrituras era o grego comum, falado pelo povo que diferia tanto do grego clássico, da literatura, que durante muitos anos estudiosos bíblicos postulavam que era um tipo de “grego sagrado”. Se Deus chega-se até ao homem, nas suas limitações e circunstâncias, objetivando a melhor comunicação, porque pensamos que devemos fazer os crentes chegar até estilos e formas que não são mais nossas? Porque prejudicamos a eficácia da nossa comunicação? Porque cristianizamos estilos e formas que não fluem da Bíblia, mas pertenceram a uma época? Porque nos tornamos antiquários em vez de usuários e aplicadores práticos das verdades de Deus? Lembremo-nos que Deus tem a palavra certa, na certeza de sua palavra, para a ocasião certa, na hora certa. Supliquemos a Ele que nos livre do pecado do isolamento.

Minha oração é que nós, calvinistas, possamos ser conhecidos tanto por nossa doutrina firme, sadia, segura, intransigente, quanto por nosso amor fraternal, por nossa gentileza, por nossa dedicação no estudo e por nossa aplicação veraz e eficaz das sãs doutrinas, ao nosso tempo. Que não apliquemos esses alertas aos nossos conhecidos ou vizinhos, mas que possamos realmente, com sinceridade, buscar a presença de Deus e verificar se não estamos sendo alvo das ciladas de Satanás, caindo nesses cinco, ou mais pecados.

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(1) Benjamin Breckinridge Warfield indica que o princípio fundamental do calvinismo é “uma profunda compreensão de Deus e de Sua majestade, acompanhada da constatação, inevitável e precisa, da natureza exata do relacionamento mantido entre Ele e Suas criaturas, mui especialmente entre Ele e as criaturas caídas em pecado” – Calvin and Augustine (Philadelphia: Presbyterian and Reformed Publishing Company, 1956/1971) 288.

(2) (1) A depravação ou corrução total da natureza humana, caída em pecado; (2) a eleição incondicional, dos que constituirão a Igreja de Cristo; (3) a expiação limitada, do nosso Senhor Jesus Cristo, que deu o Seu sangue por Sua igreja; (4) a graça irresistível do Espírito Santo, chamando os eleitos à salvação; (5) a perseverança dos santos até a glorificação, preservados pelo poder e pelas promessas de Deus.

(3)W. J. Seaton, Are We Outgrowing the Five Points of Calvinism? Em Banner of Truth (166/167, July/August 1977).

(4) Kenneth Scott Latourette, A History of Christianity (N. York: Harper & Row, 1953, 1975) pp. 26, 114, 123, 124.

(5) Ian Hamilton, palestra: “O Propósito que Governa o Culto Reformado”, no VI Simpósio do Projeto Os Puritanos, Águas de Lindóia, 6-13 de junho de 1997.

(6) Heber Carlos de Campos, O Pluralismo do Pós-Modernismo, Fides Reformata (São Paulo: Seminário Presbiteriano José Manoel da Conceição, 1997), 2/1, 5-28.

(7) Campos, palestra realizada no VI Simpósio do Projeto Os Puritanos, Águas de Lindóia, São Paulo, 6-13 de junho de 1997.

(8) John Owen, Sermão: “A Prática do Governo da Igreja” em The Works of John Owen (Londres: The Banner of Truth Trust, 1967) Vol. VIII, 60.

(9) Owen, Works, VIII, 61.

(10) Owen, “Of Toleration”, Works, VIII, 163-206.

(11) Benjamin Breckinridge Warfield, “The Religious Life of Theological Students”, em Selected Short Writings of B. B. Warfield, John E. Meeter, ed. (Philadelphia: Presbyterian and Reformed Publishing Co., 1970) I, 411-425.

(12) D. M. Lloyd-Jones, Rememorando a Reforma (S. Paulo: PES, 1994) pp. 2-5.

Este livreto foi publicado no site da 1a. Igreja Presbiteriana do Recife contendo uma versão preliminar publicada na revista "Os Puritanos". A versão publicada aqui é a completa. Este texto completo foi publicado pela Editora PES e pode ser adquirido através do site da editora http://www.editorapes.com.br

Fonte: http://www.solanoportela.net/ e http://www.monergismo.com