O RESSURGIMENTO DO CALVINISMO - Por José F. Pinheiro

Os últimos momentos de Calvino (Barcelona: Montaner y Simón, 1880-1883)

Temos vivenciado um boom de blogs e sites de orientação reformada calvinista há algum tempo, mostrando o que há de melhor (e o que há de pior também, infelizmente) desse ramo da teologia protestante. Muito da antipatia em relação a esta visão advém do mau comportamento de alguns que se dizem reformados. Estes difamam, escarnecem, portam-se com superioridade, invencíveis na lógica, etc., que muitas vezes prestam um desserviço à causa do evangelho. Todavia, mesmo havendo péssimos expositores do calvinismo, é notório o interesse de muitos cristãos de tradição teológica diferente e até antagônica. Foi uma mudança muito significativa e curiosa, tendo em vista que, em tempos pós-modernos, constitui-se uma contracultura a mensagem dos reformadores. A verdade é que muitos dos antigos defensores da fé reformada calvinista já foram tachados de anacrônicos, obtusos, fora da realidade e hereges; isto é, seu tempo não deveria voltar. Parecia até que os evangélicos haviam se tornados "independentes" em sua teologia forjada nos guetos liberais.

Mas a teologia reformada voltou a ocupar a mente (e o coração) de muitos crentes. Mesmo a contragosto de alguns em voga, a fênix ressurge após uma dormência causada, em parte, por alguns de seus muitos expositores mal (in)formados. Assim, o que praticamente havia se tornado uma subteologia, reaparece com uma certa pujança e vigor, inundando as redes sociais por esse mundo afora. É o calvinismo, de novo, querendo mudar o mundo...

Creio que a ótica reformada – ou calvinista – reivindica-se como a própria expressão do ensino bíblico, isto é, a expressão plena e mais pura da fé cristã. Conquanto seja vista como apenas uma elaboração teológica diferente (muitas vezes marginalizada), o calvinismo vem se destacando desde o século XVI, sobretudo a partir da obra em latim Christianae religionis institutio (Instituição da religião cristã), publicado por João Calvino em 1536 e reeditado em 1539, ainda em latim, mas em francês no ano de 1541. Na verdade, todas as obras de Calvino tem se destacado por sua contribuição à interpretação bíblica. O estudo dos comentários e a revisão das institutas mostram como ele esteve continuamente ocupado em desenvolver seu pensamento teológico em correspondência com suas conclusões exegéticas.

Porém, sem dúvida nenhuma, é a soteriologia a área que mais sobressai no calvinismo e, portanto, a que continua a despertar acalorados debates. Este termo se aplica à parte da teologia que trata da salvação da humanidade por meio de Jesus Cristo. Segundo a fé reformada, é a doutrina da salvação efetuada por Jesus Cristo, pela sua morte expiatória, o qual redimiu homens do seu estado de condenação eterna. Esta doutrina ocupa-se ainda de como Deus aplica a salvação aos homens para que esta se torne uma realidade experimental. 

A esse respeito, Anthony Hoekema (Salvos pela Graça, Cultura Cristã) apresenta alguns distintivos básicos em relação a outras soteriologias:

1) O fator decisivo para a determinação de quem será salvo do pecado não é uma decisão dos seres humanos envolvidos, mas a graça soberana de Deus – ainda que a decisão humana tenha papel significativo no processo.

2) A aplicação da salvação ao povo de Deus tem suas raízes no decreto eterno de Deus, segundo o qual ele escolheu seu povo para a vida eterna, não com base em qualquer mérito da parte desse povo, mas somente pelo próprio prazer de Deus.

3) Embora todos os que escutam a mensagem do evangelho sejam convidados a aceitar Cristo e sua salvação, e são honestamente conclamados a tal aceitação, a graça salvadora de Deus, no sentido mais estrito da palavra, não é universal, mas particular, sendo concedida só aos eleitos de Deus (aqueles que foram escolhidos por Deus em Cristo para a salvação).

4) A graça salvadora de Deus é, assim, eficaz e impossível de ser perdida. Isso não quer dizer que, deixados por si mesmos, os crentes não possam desviar-se de Deus, mas, pelo contrário, significa que a vontade de Deus não permite que seus escolhidos percam a salvação.

Espero que, por causa desses conceitos, possamos, juntamente com dezenas de blogs e sites calvinistas, expor e ensinar a relevância da fé reformada calvinista, com o principal intuito de:

1) Glorificar o nome do Deus triúno;

2) Demonstrar a soberania e centralidade de Jesus Cristo no Reino de Deus;

3) Promover um retorno às Escrituras, inspiradas pelo Espírito Santo, como única regra de fé e prática;

4) Tornar conhecido todo o conselho de Deus revelado nas Escrituras; e

5) Refutar os conceitos errôneos em relação à fé reformada, explicando todas as variações do calvinismo, a fim realçar o que é verdade e rejeitar o que é erro.

Até o próximo post.