REFORMADORES EM GENEBRA

REFORMADORES EM GENEBRA

sábado, 7 de novembro de 2015

Ser Reformado nem sempre significa Calvinista



Com o ressurgimento da teologia reformada, observamos a continuidade dos conceitos desenvolvidos a partir do passado século. Se considera, assim, ser calvinista é idêntico a ser reformado ou as posições defendidas pela dita teologia reformada. Este fato não é por acaso. Isto tem sido resultado de vários séculos de definições e redefinições do que significa ser calvinista e reformado. Levando a ter um significado limitador, em vez, de amplo do termo reformado, como seria entendido no início da Reforma Protestante.

Este artigo tem como alvo defender a teses de que ser reformado nem sempre é ser calvinista. Com o desejo de esclarecer minha posição, se faz necessário definir os termos para ter uma compreensão dos mesmos.

A palavra Calvinista surge a partir de Calvino, o principal autor associado as preposições apresentada pelo Calvinismo. Neste sentido, o conceito teológico Calvinismo tem um sentido restrito, limitado e estreito teologicamente as teses apresentadas por Calvino. Por este motivo, muita tinta tem sido usada para mostrar o que Calvino realmente acreditava para seguidamente defender que a posição defendida era igual e idêntica ao Reformador Francês. Além disso, se tem o entendimento em certos círculos que ser calvinista significa necessariamente uma aceitação total aos 5 pontos do Calvinismo e, ainda mais, a Confissão de Fé de Westminster (CFW) ou as versões Congregacional (1) ou Batista (2) surgidas a partir da CFW.


O site Theopedia define Calvinismo assim, "Calvinismo é o sistema de teologia associado com o reformado João Calvino que enfatiza o governo de Deus sobre todas as coisas como refletido no seu entendimento da Escritura, Deus, humanidade, salvação, e a igreja. Em geral, Calvinismo geralmente se refere a doutrina dos Cinco Pontos do Calvinismo referente a salvação. Em um sentido amplo, o Calvinismo é associado com a teologia Reformada."

Por outro lado, temos o termo Reformado. Este tem um significado mais amplo e abrangente que o anterior, porque tem uma compreensão irenista em relação as outras igrejas surgidas da Reforma Protestante, aceitando a diversidade teológica deste movimento religioso. Isto se reflete com a diversidade de confissões e declarações de fé escritas durante a Reforma Protestante (3). Tal diversidade, nos ajuda a perceber que nunca deveríamos considerar reformado não sentido estreito em que se usa o termo Calvinista.

Em outras palavras, temos por um lado o Calvinismo com algumas características particulares, as quais nem sempre são compartilhadas por todos os Reformados, entre elas, podemos mencionar as seguintes, ainda não sendo uma lista exaustiva: o governo eclesiástico presbiteriano; a ordem de culto e estilo de adoração da igreja; a compressão sacramental; a posição escatológica amilenista; os dons espirituais; a dupla predestinação; e os 5 Pontos do Calvinismo.

Por outro lado, temos os Reformados. Observamos divergência na forma de governo (congregacional, episcopal e presbiteriano (4)); o entendimento dos sacramentos (Batistas, por exemplo); nem todos aceitavam, ou aceitam, conceitos como a dupla predestinação ou a Expiação Limitada (5); encontramos várias posições escatológicas com maior ou menos aceitação (Amilenismo, Premilenismo histórico e Pósmilenismo); o próprio culto existe uma ampla diversidade e um crescente reconhecimento do Livro de Oração Comum, como o intento mais atinado de produzir uma liturgia reformada (6); a questão de Salmonologia, hinários, música contemporânea, entre outros; e, evidentemente, não podemos esquecer as mais divergentes posições existentes entre os reformadores ao respeito dos dons espirituais.

Se poderia afirmar, neste sentido, que todos os calvinistas são reformados, contudo nem todos os reformados são calvinistas stricto sensu. E permitiria superar alguns debates e controvérsias que terminam prejudicado o testemunho e expansão do Reino de Deus. Assim, considerou que ser reformado tem certo elemento de irenismo nele, enquanto ser calvinista tem uma posição mais polemista.

A posição polemista causou conflitos desnecessários em questões secundárias, terminando em divisões e conflitos que levaram a guerra por causa da religião. Inglaterra é um caso emblemático deste fato, como o pecado tomou o melhor de uma geração de jovens apaixonados por Deus e levou abraçar ações injustificadas em nome de Deus, contra outros irmãos em Cristo. Infelizmente, ainda hoje, muitos autores e teólogos continuam alimentado os preconceitos e promovendo uma narrativa histórica distorcida para mostrar assim a pureza das ideias defendidas.

Se consideramos que todas as questões são essenciais e fundamentais para a salvação (7), não deveria surpreender que nossas obras não deem fruto, porque faltará compaixão, caridade e amor. E, sem eles, nos encontraremos sem a essencial própria da mensagem da Cruz, o amor de Deus pelo Seu Povo.

O Calvinismo se beneficiaria de abraçar o espírito reformado, e superar debates mais fundamentos em conceitos humanos desenvolvido a partir da razão e o racionalismo, e voltar a compreender que existem questões as quais nem sempre são definidas com tanta preeminência, como gostaríamos de pensar.

Nem sei o número de debates que participe nos últimos anos, onde acusavam os batistas de não ser reformados pela questão do batismo e o sistema de governo eclesiástico. Paradoxalmente, o avivamento reformado tem sido causado grandemente por pastores de origem batista reformado (8). Isso sem contar as vezes que me obrigue a defender o Anglicanismo como historicamente reformado e protestante, ainda que hoje nem sempre seja assim (9).

E, verdadeiramente, em um sentido estrito do termo, o Anglicanismo nunca poderá ser considerado calvinista, contudo as igrejas anglicanas formam parte da grande tradição protestante, reformada e evangélica, sendo assim verdadeiramente e plenamente católicos.

O mesmo posso dizer dos irmãos presbiterianos, batistas, congregacionais, e tantos outros que são dificilmente definíveis, que são autenticamente reformados, mas nem sempre estritamente calvinistas.

Que Deus nos ajudei a ter uma visão ampla e abrangente onde possamos receber os irmãos, e não rejeitar por questões sem eterna importância.


___________
(1) A Declaração de Savoy, 1658.

(2) A Confissão de Fé Batista de Londres, 1689.

(3) Algumas destas confissões se encontram no seguinte artigo da Wikipedia:https://en.wikipedia.org/wiki/Reformed_confessions_of_faith

(4) O governo presbiteriano na Genebra inclusive difere daquele que surgiria na Escócia e, posteriormente, entre as igrejas presbiterianas nos USA e, a partir desse modelo, ao resto do mundo.

(5) Expiação Limitada causou tal número de controvérsias entre os reformadores, que levou o uso de um linguagem ambígua neste ponto foi deixado no esboço final dos Cânones de Dort (1618–1619) com o desejo de permitir que entre aqueles delgados que rejeitavam o conceito de Expiação Limitada assinassem o documento final. Na Assembleia de Westminster (1643–1649), tinha entre os seus delegados aqueles que rejeitavam o conceito de Expiação Limitada. Alguns deles eram conhecidos como Amyraldismo, contudo nem todos poderiam ser considerados parte desta posição teológica. Para maior compreensão deste debate na Assembleia de Westminster, recomendou a leitura do artigo, “Shades of opinion within a Generic Calvinism,” pelo Rev Dr Lee Gastiss.https://leegatiss.files.wordpress.com/2009/10/lee-gatiss-rtr-articles-on-particular-redemption-at-westminster.pdf
Além deles, encontramos entre importantes líderes destacáveis dos Puritanos e dos não-conformistas, como John Bunyan, que escreviam e pregavam em contra a mesma.

(6) Recomendo a leitura dos seguintes artigos que reflete sobre a importância do Livro de Oração Comum, como uma verdadeira liturgia reformada:
• “Why Should Presbyterians Read the Book of Common Prayer?” pelo Rev John Ross | https://johnstuartross.wordpress.com/why-should-presbyterians-read-the-book-of-common-prayer/ 
• “Thoams who?” por Zac Hicks | http://www.reformedworship.org/blog/thomas-who 

(7) O Presidente e Fundador de Credo House Ministries, C Michael Patton, escreveu um artigo onde aborda o tema das doutrinas essenciais e as que não são. Tal artigo poderá ajudar ao leitor a considerar esta questão. Acessa aqui:http://www.reclaimingthemind.org/blog/2009/12/essentials-and-non-essentials-how-to-choose-you-battles-carefully-chart-included/

(8) John Piper, John McArthur, Paul Washer, Franklin Ferreira, a turma da Editora Fiel, e tantos outros teólogos.

(9) O fato curioso, como bispo anglicano e reformado, foi ler a resposta dos presbiterianos diante do surgimento do movimento de Oxford (anglo-católicos), em vez de rejeitar como uma falsa expressão do Anglicanismo, convidavam os Anglicanos a sair do Anglicanismo, porque esta não era reformada, nem protestante, apontando os anglo-católicos como exemplo do que era realmente ser anglicano. E, deste modo, os próprios presbiterianos terminaram promovendo o movimento anglo-católico no Anglicanismo.


FONTE: http://cafecomobispo.blogspot.com.br/2015/11/ser-reformado-nem-sempre-significa.html

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

O que é Calvinismo Moderado?

[...] o que é o calvinismo? Essa não é uma pergunta fácil de se responder. Kuiper e Richard Muller já demonstraram que há várias formas de se entender o que é “calvinismo”, variando seu sentido de acordo com a época ou o lugar. Entretanto, acredito que para o nosso presente contexto, há duas definições bastante úteis que podemos utilizar.


A primeira forma é relacionada diretamente com o grande reformador João Calvino. Como o nome sugere calvinismo num sentido estrito é o sistema de doutrinas sistematizado por Calvino, abrangendo, por exemplo, a doutrina das Escrituras, dos Sacramentos, da Justificação pela Fé, do Governo da Igreja, e, é claro, sua soteriologia, as famosas doutrinas da Graça (Depravação Total, Eleição Incondicional, Expiação Limitada, Graça Irresistível e Perseverança dos Santos). Nesse sentido, de seguidores das doutrinas de João Calvino, algumas pessoas podem ser consideradas calvinistas em alguns aspectos e como não-calvinistas em outras. Por exemplo, batistas calvinistas normalmente são calvinistas em relação as doutrinas da graça, mas não seguem Calvino na sua compreensão sobre o sacramento do Batismo, ou presbiterianos dispensacionalistas são calvinistas em relação tanto as doutrinas da graça, quanto ao governo da igreja, mas não concordam com o entendimento do reformador sobre a unidade dos Pactos.

Entretanto não é comum calvinismo ser definido nesses termos estritos. Compreende-se calvinismo, em um sentido amplo, como sendo as doutrinas sustentadas pelos Reformadores e por aqueles que os sucederam. Seria, então, um termo usado de forma sinônima com “doutrina reformada”. Não se trata de apenas um homem, mas a fé na soberania de Deus sobre a salvação do homem e sobre todas as coisas. Como Curt Daniel coloca:

“O sistema de teologia conhecido como calvinismo responde sem qualquer apologia ou compromisso: “Deus é o Rei”. Virtualmente todos os outros sistemas de teologia podem dizer que concordam, mas sobre um minucioso escrutínio, eles colocam o homem no trono com Deus, ou até depõe Deus completamente e entronizam o homem.
Talvez você possa ter se perguntado o que é esse calvinismo para fazer uma afirmação tão ousada. Obviamente ele é associado com o nome de João Calvino, mas essa teologia é mais antiga. É ensinada em ambos os testamentos da Bíblia. Muitos dos antigos pais a ensinaram, especialmente o grande Agostinho. Muito dos reformadores protestantes foram ou calvinistas ou no básico concordavam com sua teologia, tais como Martinho Lutero. Em seguida, houve os puritanos ingleses e americanos, como John Bunyan e Matthew Henry, dos quais quase todos criam no calvinismo. Mais tarde, pregadores e teólogos calvinistas incluíam Jonathan Edwards, Charles Hodge, Charles Haddon Spurgeon, AW Pink, Martin Lloyd-Jones e James I. Packer.

[..]

A maioria das denominações protestantes que se originaram na Reforma são fundamentadas sobre confissões de fé oficiais que são claramente calvinistas, como a Confissão de Westminster (presbiterianismo), os Cânones de Dort (reformado), os Trinta e Nove artigos (Episcopalismo), a Confissão Batista de 1689 (batistas), a Declaração de Savoy (congregacionalismo) e muitos outros. O luteranismo histórico é muito próximo ao calvinismo. Assim, a teologia do calvinismo é muito antiga e tem resistido ao teste do tempo. Calvinismo não é um modismo teológico.
Calvinismo é um ramo do cristianismo evangélico, sustentando todos os pontos essenciais da fé, como a plena autoridade das Escrituras e a divindade de Cristo. [...]
Se alguém quiser resumir as características distintivas do calvinismo, então só precisa aprender o significado das palavras "Graça Soberana." Todas as teologias evangélicas concordarão que a salvação é somente pela graça de Deus, mas somente o calvinismo diz que ela é soberanamente dada a quem Deus escolhe concedê-la. Para entender plenamente as palavras, então, é preciso entender o ensino calvinista da soberania de Deus e o que nós chamamos de "as doutrinas da graça." Essas são geralmente resumidas como os Cinco Pontos do Calvinismo pelo popular acrônimo TULIP: depravação total, eleição incondicional, expiação limitada, graça irresistível e perseverança dos santos. Mas tudo isso traz de volta à questão de quem governa o universo.

Podemos acrescentar que o calvinismo enfatiza as cinco grandes doutrinas redescobertas na Reforma Protestante, ou seja, Sola Scriptura (somente a Escritura), Sola Gratia (somente a Graça), Sola Fide (somente pela Fé), Solo Christo (somente Cristo) e Soli Deo Gloria (só a Deus seja a glória). Uma vez que acreditamos que todas as doutrinas devem ser testados pelas Escrituras (Atos 17:11; 1 Tess 5:21;. Is 8:20), você está convidado a examinar as Escrituras e ver se o Calvinismo é realmente o ensinamento da Palavra de Deus”.

Nesse sentido, calvinismo representa uma ampla tradição reformada, onde há espaço, dentro de certos limites, para divergências sobre pontos específicos de doutrina, sem que isso force alguém a deixar de ser caracterizado como calvinista. A própria Reforma Protestante foi composta de valorosos homens de Deus que não concordavam sobre todos os pontos uns com os outros. Isso não significa uma fraqueza, mas sim um ponto forte. Uma vez que não se considera o entendimento humano de quem quer que seja como divinamente inspirado, discordâncias sobre pontos não essenciais devem fazer parte da Igreja e do diálogo que nos ajuda a compreender melhor a revelação de Deus nas Escrituras Sagradas.

Tendo dito isso, podemos passar para a parte mais específica do site. 

Afinal, o que é calvinismo moderado? Adianto que não tem nenhuma relação com o suposto “calvinismo moderado” de Norman Geisler exposto em “Eleitos, mas Livres”.

Calvinismo moderado é um termo cunhado historicamente para designar os calvinistas que acreditam que a expiação é limitada em propósito e não na extensão das pessoas representadas. Nós cremos na fórmula lombardiana que diz que “Cristo morreu suficientemente por todos, e eficientemente somente pelos eleitos”. Embora essa posição seja rapidamente rotulada como calvinismo de quatro pontos, não é correto chamá-la assim. Nós acreditamos nos cinco pontos, mas não na Expiação Limitada como definida e popularizada por John Owen. [...]. Uma exposição calvinista moderada dos cinco pontos do calvinismo por Curt Daniel, anteriormente citado, pode ser encontrada acessando http://mortoporamor.blogspot.com.br/2010/11/curt-daniel-os-cinco-pontos-do.html.
Abaixo seguem algumas diferentes formas de se compreender a fórmula lombardiana "suficiente por todos, eficiente pelos eleitos", que demonstram a distinção do calvinismo moderado para outras formas de calvinismo (high ou hyper):

1) Suficiência Limitada: Somente os pecados dos eleitos foram imputados a Cristo. Imputação limitada decorre da limitada representação legal devido à morte ser lida através das lentes do pacto da redenção. Os sofrimentos de Cristo eram uma parte da satisfação necessário, e, assim, seus sofrimentos foram medidos pela justiça da imputação (equivalentismo). Cristo sofreu tanto por tantos pecados. Sua morte é, portanto, apenas suficiente para o eleito. Não há nenhuma conexão necessária entre a oferta do evangelho e a morte que Cristo morreu. Alguns que sustentam essa visão negam a livre oferta. Normalmente está associada com o hiper-calvinismo, mas alguns poucos high calvinistas também defendem essa posição. A morte de Cristo é apenas suficiente para os eleitos pela ordenação de Deus.
2) Suficiência Hipotética para Todos e Real para os Eleitos: Somente os pecados dos eleitos foram imputados a Cristo. Imputação limitada decorre da limitada representação legal devido à morte ser lida pelas lentes do pacto da redenção. A natureza da pessoa de Cristo determina o valor de sua satisfação, por isso é de valor infinito. Este valor infinito é necessário porque os eleitos, devido a seus pecados, são infinitamente culpados, e não porque a culpa do mundo foi imputada a Ele. A suficiência real (a que é realmente conta neste mundo) em Cristo corresponde à justa punição devida aos eleitos somente. O aspecto hipotético pertence aos não-eleitos. Se Deus tivesse, hipoteticamente, eleito mais pessoas, então não haveria nenhuma diferença no que Cristo fez. No entanto, a suficiência real é cercada pelo Decreto de Deus sobre os eleitos, ela não tem relação com os pecados dos não-eleitos. Não há nenhuma conexão necessária entre a oferta do evangelho e a morte que Cristo morreu. Esta visão é geralmente associada com o high calvinismo, mas também é sustentada por alguns hiper-calvinistas. A morte de Cristo é realmente suficiente para os eleitos pela ordenação de Deus, e hipoteticamente suficiente para os não-eleitos.

3) Suficiência Real para Todos e Propósitos Distintos: A culpa dos pecados de toda a humanidade foram imputados a Cristo quando Ele morreu. A imputação corresponde às exigências da lei no que diz respeito a cada pessoa. Cristo, em sua morte, remove as barreiras jurídicas que se colocam no caminho para qualquer pessoa ser perdoada por Deus. O Senhor quis que esta morte fosse uma provisão universal para toda a humanidade, a fim de que todos possam ser salvos, mas não desejou igualmente que todos sejam salvos. O comando para indiscriminadamente oferecer o evangelho a todos por meio do evangelho é baseado na disponibilidade real dessa suficiente satisfação para todo homem. Cristo realmente sofreu e morreu em Sua pessoa infinita a morte que era devida a todo homem. Esta visão é a associada com o calvinismo moderado”. (Tony Byrne)

Outro esclarecimento importante que deve ser feito é sobre o rótulo de que o calvinismo moderado seja amyraldismo. Normalmente isso ocorre porque Amyrald foi condenado por heresia (embora posteriormente absolvido) e ao fazer a associação tenta-se levar a posição ao descrédito antes que alguém possa apreciá-la. O que deve ser lembrado é que a acusação contra Amyrald foi contra sua suposta crença em decretos condicionais e não contra sua crença numa expiação universal. Mas mesmo a acusação sobre os decretos condicionais foi provada não ter fundamento, uma vez que a posição de Amyrald sobre o assunto não se referia à vontade secreta de Deus, mas à Sua vontade revelada. O Sínodo de Alancon (1637) deixa isso claro:

“19. E quanto ao Decreto Condicional, dos quais se faz menção no citado Tratado da Predestinação, os referidos senhores Testard e Amyrald declararam que eles nunca compreenderam qualquer outra coisa além da vontade revelada de Deus na sua Palavra, de dar graça e vida aos crentes”

A verdade é que Amyrald era um calvinista moderado, e não que os calvinistas moderados sejam amyraldianos. Alguém que sustenta a visão de uma expiação limitada-ilimitada não precisa abraçar a suposta ordem dos decretos de Amyrald. Existem e existiram calvinistas moderados infralapsarianos e supralapsarianos. A verdade é que quase nenhum calvinista que acredita na expiação universal conhece suas obras. O teólogo que tem influenciado os calvinistas moderados ao longo dos tempos é John Davenant, grande teólogo inglês, o qual representou sua nação em Dort, por meio de sua obra “Dissertação sobre a Morte de Cristo”.

[...]

FONTE: http://mortoporamor.blogspot.com.br/p/sobre-esse-site.html


sábado, 19 de setembro de 2015

UM BREVE PANORAMA DAS HERESIAS CRISTOLÓGICAS SOBRE AS NATUREZAS DE CRISTO - Francisco Alison Silva Aquino


A história do cristianismo tem como uma de suas principais marcas o surgimento de doutrinas que vão de encontro ao ensinamento bíblico. Já na igreja apostólica do Novo Testamento, nós percebemos facilmente a existência de heresias destruidoras. Em I Jo 4.1-3 nós lemos:
Amados, não creiais a todo espírito, mas provai se os espíritos vêm de Deus; porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo. Nisto conheceis o Espírito de Deus: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; e todo espírito que não confessa a Jesus não é de Deus; mas é o espírito do anticristo, a respeito do qual tendes ouvido que havia de vir; e agora já está no mundo.” 

Outra passagem do Novo Testamento afirma: “Porque já muitos enganadores saíram pelo mundo, os quais não confessam que Jesus Cristo veio em carne. Tal é o enganador e o anticristo.” (II Jo 7)

Estas passagens demonstram claramente que já no período neotestamentário havia conceitos equivocados a respeito de Cristo. Os textos dizem que alguns afirmavam que Cristo não vira em carne. E foi justamente esse um dos objetivos de João ao escrever essa epístola: enfrentar a heresia gnóstica do primeiro século. Talvez essa tenha sido a heresia mais perigosa que ameaçava a igreja dos três primeiros séculos.

O gnosticismo (do grego “gnosis”, sabedoria) defende um forte dualismo espírito/matéria. A ideia gnóstica é que enquanto o espírito é “bom”, a matéria é essencialmente “má”. Essa percepção trouxe várias consequências desastrosas para o cristianismo. Uma delas é, que, pela lógica, se a matéria é essencialmente má, logo, Cristo não poderia ter “vindo em carne” (I Jo 4.2), negando assim a doutrina bíblica da encarnação como o cristianismo ortodoxo crê. Além disso, consequentemente, a humanidade de Cristo também era negada.

Franklin Ferreira (2007, p.487) agrupa as heresias antigas sobre as naturezas de Cristo em duas classes: primeira, as negações da humanidade de Jesus Cristo, que seriam o docetismo, o apolinarismo e o eutiquianismo. Segunda, as negações da divindade de Cristo, que seriam o ebionismo, o adocionismo e o arianismo.

O docetismo tem uma forte ligação com o gnosticismo tratado há pouco. O nome docetismo vem do grego dókesis cujo significado é “aparência”. Isto é, os docetas criam que, pelo fato de a matéria ser intrinsecamente má, Cristo não foi plenamente encarnado na carne, pois uma vez que a matéria tem essa característica, o espírito, que é bom, não poderia se envolver com ela. O corpo de Jesus, então, era uma mera ilusão e somente “parecia” que Cristo tinha sido crucificado.

Um outro ensinamento difundido no século IV por Apolinário, bispo de Laodicéia (310-390), pregava que Cristo era divino mas não humano (apolinarismo). Ele entendia que Jesus Cristo não possuía uma alma racional humana, a alma divina (ou logos) teria tomado o lugar da alma humana. As ideias de Apolinário foram condenadas no concílio de Constantinopla no ano 381.

A última heresia que negava a humanidade de Cristo foi o eutiquianismo. Essa heresia era defendida por um monge de Constantinopla chamado Eutiques. Ele defendia que a natureza divina de Cristo absorveu a natureza humana. Nesse sentido, Cristo teria apenas uma natureza após a união, a divina, revestida de Carne humana. O eutiquianismo, conhecido posteriormente como monofisismo, foi condenado em Calcedônia e continuou exercendo influência sobre Cristãos do Egito, Etiópia, Síria, Armênia e outras regiões. Em oposição ao monofisismo, o concílio de Calcedônia reconhecia o diofisismo (duas naturezas).

A segunda classe de heresias cristológicas é aquela referente aos ensinamentos que negam a divindade de Cristo. São Elas: ebionismo, o adocionismo e o arianismo.

Os ebionistas defendiam uma heresia surgida em Israel no final do primeiro século. O ebionismo parece ter desaparecido conforme a igreja foi se tornando cada vez mais gentílica e menos judaica. O nome é derivado do hebraico “’ebyôn”, que significa “pobre”, “necessitado”, etc. O ensino ebionista era que Jesus Cristo não era Deus, mas somente um profeta extraordinário, o qual se identificava com os pobres (daí o nome), sendo filho natural de José e Maria. Segundo Berkhof (1992, p.43), os ebionistas “negavam tanto a divindade de Cristo como o seu nascimento virginal”.

Outra heresia que negava a divindade de Cristo foi o adocionismo. O ensinamento por trás dessa heresia era que Jesus era simplesmente um homem virtuoso, tão submisso ao Pai que este o adotou como o salvador dos homens. Tal doutrina foi ensinada por Paulo de Samosata, bispo de Antioquia. Segundo ele, Jesus teria sido iluminado por Deus de maneira extraordinária, sendo progressivamente aperfeiçoado até que ele tornou-se Cristo, o filho de Deus com uma posição divina. Porém, filho por “adoção”, não por natureza. Logo, a existência eterna de Cristo com o pai foi negada pelos adocionistas também.

Por último, o arianismo foi a principal heresia dos primeiros séculos da história do cristianismo. Ário foi um presbítero de Alexandria que ensinava que Cristo era apenas uma criatura, não o Deus eterno. Uma expressão típica desse movimento era que “houve um tempo quando Cristo não era”. Os debates em torno dessa doutrina resultaram na formulação de uma das mais importantes confissões de fé cristãs: o credo de Nicéia, elaborado no primeiro grande concílio da igreja em 325 na cidade de Nicéia (atual İznik, Turquia).

O surgimento de heresias na história da igreja tem conduzido servos de Deus a debates com o objetivo de definir o ensinamento correto das Escrituras. No entanto, mesmo em meio a tantas controvérsias, o Senhor cuidou de preservar a sua verdade através dos séculos.


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Referências:
FERREIRA, Franklin & Alan Myatt. Teologia sistemática: uma análise histórica, bíblica e apologética para o contexto atual. São Paulo: Vida Nova, 2007.
BERKHOF, Louis. A história das doutrinas cristãs. São Paulo: Pes, 1992.
 FONTE: http://bereianos.blogspot.com.br/2014/10/um-breve-panorama-das-heresias.html#.Vf03ed9Viko

terça-feira, 15 de setembro de 2015

OU DEUS OU MAMOM - Renato César


O Senhor Jesus foi enfático ao fazer oposição entre o amor ao dinheiro e o serviço a Deus (Mt 6:24). Para ele, ambos são mutuamente excludentes. Entretanto, deve ficar claro que o Mestre não condenou em momento algum o uso do dinheiro. O ministério de Jesus foi apoiado financeiramente (Lc 8:3), de tal forma que havia um tesoureiro entre os discípulos (Jo 12:6). É importante frisar esse aspecto para que não se caia no extremo de condenar a utilização do dinheiro como meio de troca. Então, como já está evidente no próprio versículo, Jesus fazia referência ao “amor ao dinheiro”, que em outras palavras refere-se à centralidade que ele tem na vida de muitos homens, no lugar de Deus.

Como em quase tudo na vida, o que Deus leva em consideração não é o que fazemos, mas a motivação com que fazemos. Assim, não há nada de errado em se querer ganhar mais dinheiro. Contudo, Deus sonda nossos corações e sabe o porquê de querermos prosperar financeiramente. E é neste ponto em que está o cerne da mensagem que Cristo quis passar.

O amor ao dinheiro nada mais é que o amor a si mesmo. Ter mais dinheiro é, em geral, sinônimo de status, poder e conforto. Tudo isso, entretanto, está ligado ao desejo da carne, e não às aspirações de um cristão preocupado com o Reino de Deus. O dinheiro possibilita a satisfação de desejos e ambições que em um ser humano não regenerado nada têm a ver com a vontade de Deus.

Entretanto o que de fato me preocupa não é a forma como o ímpio faz uso de seu dinheiro, mas como cristãos, ou mais precisamente os evangélicos, o tem gasto. Eu fico intrigado ao ver carrões estacionados em frente às igrejas, muitas vezes trocados anualmente, enquanto alguns membros da mesma comunidade padecem com a falta do mínimo para viver. Pergunto-me se estou sendo radical ao me incomodar com o desfile de vestidos e joias a cada novo culto ou se só eu estou vendo que a vaidade parece gritar mais alto que as vozes que adoram a Deus durante o louvor. Não consigo ver coerência entre o discurso de priorizar o Reino de Deus sobre todas as coisas e o tratamento que muitos empresários cristãos dão a seus empregados, submetendo-os a um regime de trabalho quase escravista na ânsia de obter mais lucros.

A sensação que me vem ao conversar com alguns cristãos é de que o dízimo é uma taxa que permite a livre utilização dos outros 90% unicamente na satisfação de desejos egoístas. E aí vem os tablets e smartphones para todos os membros da família, além das roupas e calçados de marca, sem se esquecer dos óculos de grife e demais utensílios que possam adornar o corpo e tapar, ainda que só por um breve momento, o buraco existencial que existe na alma.

Como eu já disse anteriormente, as palavras de Jesus trazem um ensino bem mais profundo que uma leitura superficial do texto possa sugerir. O centro da questão está relacionado ao chamado feito a cada um de nós para negar a si mesmo e carregar a própria cruz (Lc 9:23). Alguém que ama o dinheiro ama muito mais a si próprio que a Deus e a seu próximo. Quem ama o dinheiro está preocupado em satisfazer a si mesmo muito mais que agradar a Deus ou ajudar a alguém necessitado. 

O amor ao dinheiro apenas revela o que há por trás da máscara que vestimos. Mas o que mais me entristece e preocupa é que eu e você podemos estar vestindo a máscara da religião, tentando maquiar com dízimos e ofertas o Mamom que pode estar reinando em nossos corações. Que Deus tenha misericórdia de nós!



FONTE:http://bereianos.blogspot.com.br/2013/08/ou-deus-ou-mamom.html#.Vffy3BFVikoSobre o autor: Membro da IPB - Fortaleza/CE. Artigo enviado por e-mail. Contatos com o autor: renatocesarmg@hotmail.com



João Calvino e “Os Cinco Pontos do Calvinismo” - André do Carmo Silvério

É muito comum se ouvir falar sobre “Os Cinco Pontos do Calvinismo”. Eu mesmo, quando me tornei aluno da classe de catecúmenos, com a finalidade de ser membro da Igreja Presbiteriana do Brasil, lembro-me de ouvir por várias vezes falar sobre esse assunto. Contudo, meu raciocínio não era outro, senão, o de achar que o autor destes pontos era de fato o próprio reformador do século XVI: João Calvino. Mas somente no Seminário pude ter um contato mais próximo com obras literárias que falavam sobre o assunto, e, desta forma, creio ter sido esclarecido sobre o que realmente vem a ser “Os Cinco Pontos do Calvinismo”.
Portanto, o objetivo deste pequeno artigo é esclarecer de forma simples quem de fato escreveu os chamados “Cinco Pontos do Calvinismo”, por qual razão e porque eles são “cinco pontos” ao invés de sete ou dez. Além disso, procuraremos destacar a sua relevância para a nossa teologia.

1. Autoria
Ao contrário do que muitos pensam, não foi João Calvino quem escreveu “Os Cinco Pontos do Calvinismo”. Talvez algumas pessoas ficarão impressionadas com esta afirmação. No entanto, a magna pergunta que se faz é: Se não foi Calvino, quem foi então? “Estes cinco pontos foram formulados pelo Sínodo de Dort, Sínodo este convocado pelos estados Gerais (da Holanda) e composto por um grupo de 84 Teólogos e 18 representantes seculares, entre esses estavam 27 delegados da Alemanha, Suíça, Inglaterra e outros países da Europa reunidos em 154 Sessões, desde 13 de novembro de 16 18 até maio de 1619” . [1] Portanto, peca por ignorância quem afirma ser João Calvino o autor destes cinco pontos, porque na verdade, a afirmação correta é que estes “pontos” foram fundamentados tão somente nas doutrinas ensinadas por ele. Aliás, este sistema doutrinário, se assim podemos chamá-lo, foi elaborado somente 54 anos após a morte do grande reformador (1509-1564).

2. Razão de sua Escrita
Os Cinco Pontos do Calvinismo foram formulados em resposta a um “documento que ficou conhecido na história como ‘Remonstrance' ou o mesmo que ‘Protesto'”, [2]apresentado ao Estado da Holanda pelos “discípulos do professor de um seminário holandês chamado Jacob Hermann, cujo sobrenome latino era Arminius (1560-1600). Mesmo estando inserido na tradição reformada, Arminius tinha sérias dúvidas quanto à graça soberana de Deus, visto que era simpático aos ensinos de Pelágio e Erasmo, no que se refere à livre vontade do homem”. [3] Este documento formulado pelos discípulos de Arminius tinha como objetivo mudar os símbolos oficiais de doutrinas das Igrejas da Holanda (Confissão Belga e Catecismo de Heidelberg ), substituindo pelos ensinos do seu mestre. Desta forma, a única razão pela qual Os Cinco Pontos do Calvinismo foram elaborados era a de responder ao documento apresentado pelos discípulos de Arminius.

3. Porque Cinco Pontos?
Este documento formulado pelos alunos de Jacob Arminius tinha como teor cinco principais pontos, conhecidos como “Os Cinco Pontos do ArminianismoE como já dissemos logo acima, em resposta a este Cinco Pontos do Arminianismo, o Sínodo de Dort elaborou também o que conhecemos como “Os Cinco Pontos do Calvinismo” ao invés de sete ou dezEstes pontos do calvinismo são conhecidos mundialmente pela palavraTULIP, um acróstico popular que na língua inglesa significa:

otal Depravity
Total Depravação
nconditional Election
Eleição Incondicional
imited Atonement
Expiação Limitada
rresistible Grace
Graça Irresistível
erseverance of Saints
Perseverança dos Santos

4. Os Cinco Pontos do Arminianismo Versus Os Cinco Pontos do Calvinismo [4]

Arminianismo
Calvinismo

1. Vontade Livre – O arminianismo diz que a vontade do homem é “livre” para escolher, ou a Palavra de Deus, ou a palavra de Satanás. A salvação, portanto, depende da obra de sua fé.

1. Depravação Total – O calvinismo diz que o homem não regenerado é absolutamente escravo de Satanás, e, por isso, é totalmente incapaz de exercer sua própria vontade livremente (para salvar-se), dependendo, portanto, da obra de Deus, que deve vivificar o homem, antes que este possa crer em Cristo.


2. Eleição Condicional – O arminianismo diz que a “eleição é condicional, ou seja, acredita-se que Deus elegeu àqueles a quem “pré-conheceu”, sabendo que aceitariam a salvação, de modo que o pré-conhecimento [de Deus] estava baseado na condição estabelecida pelo homem.

2. Eleição Incondicional – O calvinismo sustenta que o pré-conhecimento de Deus está baseado no propósito ou no plano de Deus, de modo que a eleição não está baseada em alguma condição imaginária inventada pelo homem, mas resulta da livre vontade do Criador à parte de qualquer obra de fé do homem espiritualmente morto.



3. Expiação Universal – O arminianismo diz que Cristo morreu para salvar não um em particular,porém somente àqueles que exercem sua vontade livre e aceitam o oferecimento de vida eterna. Daí, a morte de Cristo foi um fracasso parcial, uma vez que os que têm volição negativa, isto é, os que não querem aceitar, irão para o inferno.


3. Expiação Limitada – O calvinismo diz que Cristo morreu para salvarpessoas determinadas, que lhe foram dadas pelo Pai desde toda a eternidade. Sua morte, portanto, foi cem por cento bem sucedida, porque todos aqueles pelos quais ele não morreu receberão a “justiça” de Deus, quando forem lançados no inferno.

4. A Graça pode ser Impedida – O arminianismo afirma que, ainda que o Espírito Santo procure levar todos os homens a Cristo (uma vez que Deus ama a toda a humanidade e deseja salvar a todos os homens), ainda assim, como a vontade de Deus está amarrada à vontade do homem, o Espírito [de Deus] pode ser resistido pelo homem, se o homem assim o quiser. Desde que só o homem pode determinar se quer ou não ser salvo, é evidente que Deus, pelo menos, “permite” ao homem obstruir sua santa vontade. Assim, Deus se mostra impotente em face da vontade do homem, de modo que a criatura pode ser como Deus, exatamente como Satanás prometeu a Eva, no jardim [do Éden].

4. Graça Irresistível – O calvinismo entende que a graça de Deus não pode ser obstruída, visto que sua graça é irresistível. Os calvinistas não querem significar com isso que Deus esmaga a vontade obstinada do homem como um gigantesco rolo compressor! A graça irresistível não está baseada na onipotência de Deus, ainda que poderia ser assim, se Deus o quisesse, mas está baseada mais no dom da vida, conhecido comoregeneração. Desde que todos os espíritos mortos (= alienados de Deus) são levados a Satanás, o deus dos mortos, e todos os espíritos vivos (= regenerados) são guiados irresistivelmente para Deus (o Deus dos vivos), nosso Senhor, simplesmente, dá a seus escolhidos o Espírito de Vida. No momento que Deus age nos eleitos, a polaridade espiritual deles é mudada: Antes estavam mortos em delitos e pecados, e orientados para Satanás; agora são vivificados em Cristo, e orientados para Deus.


5. O Homem pode Cair da Graça – O arminianismo conclui, muito logicamente, que o homem, sendo salvo por um ato de sua própria vontade livremente exercida, aceitando a Cristo por sua própria decisão, pode também perder-se depois de ter sido salvo, se resolver mudar de atitude para com Cristo, rejeitando-o! (Alguns arminianos acrescentariam que o homem pode perder, subseqüentemente, sua salvação, cometendo algum pecado, uma vez que a teologia arminiana é uma “teologia de obras” – pelo menos no sentido e na extensão em que o homem precisa exercer sua própria vontade para ser salvo). Esta possibilidade de perder-se, depois de ter sido salvo, é chamada de “queda (ou perda) da graça”, pelos seguidores de Arminius. Ainda, se depois de ter sido salva, a pessoa pode perder-se, ela pode tornar-se livremente a Cristo outra vez e, arrependendo-se de seus pecados, “pode ser salva de novo”. Tudo depende de sua continua volição positiva até à morte!


5. Perseverança dos Santos – O calvinismo sustenta muito simplesmente que a salvação, desde que é obra realizada inteiramente pelo Senhor – e que o homem nada tem a fazer antes, absolutamente, “para ser salvo” -, é óbvio que o “permanecer salvo” é, também, obra de Deus, à parte de qualquer bem ou mal que o eleito possa praticar. Os eleitos ‘perseverarão' pela simples razão de que Deus prometeu completar, em nós, a obra que ele começou. Por isso, os cinco pontos de TULIP incluem a Perseverança dos Santos .

5. Considerações Finais
Para inteirar o leitor do todo da história, Spencer nos diz que após o Sínodo de Dort se reunir em 154 Sessões num “completo exame das doutrinas de Arminius e comparar cuidadosamente seus ensinos com os ensinos das Escrituras Sagradas, chegaram à conclusão que os ensinos de Arminius eram heréticos”. [5] “E não somente isto, mas o Concílio impôs censura eclesiástica aos ‘remonstrantes' depondo-os dos seus cargos, e a autoridade civil (governo) os baniu do país por cerca de seis anos”. [6]
Diante disso, creio que a diferença crucial entre o Arminianismo e o Calvinismo se resume na palavra Soberania. Enquanto os calvinistas entendem que Deus opera a salvação na vida do ser-humano conforme a sua livre e soberana vontade, os arminianos salientam que o homem é capaz de por si só querer ou não ser salvo. Se partirmos da premissa que o homem está completamente morto diante de Deus como nos ensina Efésios 2:1, entenderemos porque a salvação depende tão somente da graça e da misericórdia do SENHOR, pois “não depende de quem quer ou quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia” (Rm 9:16). Portanto, creio que os objetivos deste artigo foram de fato alcançados, demonstrando assim a verdadeira história dos “Cinco Pontos do Calvinismo”. Que assim, queira o Senhor nosso Deus nos abençoar e nos dar sempre a graça de sermos verdadeiros propagadores da história reformada.

NOTAS:
[1] - Tradução livre e adaptada do livro The Five Points of Calvinism, www.unifil.br/teologia/arquivos/ cincopontoscalvinoesboco.pdf
[2] - The Five Points of Calvinism, p. 1, ob.cit.
[3] - Duane E. Spencer, TULIP, Os Cinco Pontos do Calvinismo à Luz das Escrit uras, p. 111-112, Parakletos, 2ª Edição – São Paulo – 2000.
[4] - Esta síntese foi retirada do livro TULIP , p. 15-19.
[5] - TULIP , p. 112.
[6] - The Five Points of Calvinism, p. 6.

FONTE: http://www.monergismo.com/textos/jcalvino/joao_calvino_5pontos_silverio.htm. O Rev. André do Carmo Silvério é pastor da Igreja Presbiteriana do Jardim Girassol – Guarulhos, professor de Teologia Sistemática no Instituto Bíblico Presbiteriano Rev. Boanerges Ribeiro e Secretário de Mocidade da Confederação Norte Paulistano.



sábado, 12 de setembro de 2015

CONSELHOS DE JOHN FRAME PARA SEMINARISTAS E TEÓLOGOS INICIANTES


Trinta conselhos de John Frame para seminaristas e teólogos iniciantes. Esses conselhos foram publicados em Inglês no livro Falando a verdade em amor: a teologia de John Frameapós uma entrevista que ele deu a P. Andrew Sandlin. A pergunta feita a John Frame foi a seguinte: “Quais conselhos você daria a um seminarista ou teólogo iniciante enquanto eles se preparam para enfrentar seus desafios?” As repostas foram traduzidas por mim, com pequenas adaptações. Se preferir, veja a versão em inglês no blog de Andi Naselli.
 Dr. John Frame é professor de teologia sistemática e filosofia no Reformed Theological Seminary em Orlando, após ter servido por 31 anos como professor no Westminster Theological Seminary, Califórnia.

1.   Considere a possibilidade de você não ter sido chamado para ser um teólogo. Tiago 3:1 nos lembra de que nem todos os que estão estudando teologia deveriam procurar ser mestres.
2.   Valorize seu relacionamento com Cristo, com sua família e com a igreja mais do que a sua carreira. Você influenciará mais pessoas por meio de sua vida do que pela sua teologia. As deficiências em sua vida acabarão negando a influência de suas ideias, mesmo as ideias que são verdadeiras.
3.   Lembre-se de que a tarefa fundamental da teologia é entender a Bíblia, a Palavra de Deus, e aplicá-la para as necessidades das pessoas. As demais coisas, sofisticação exegética, histórica e linguística, conhecimento da cultura e filosofias, tudo isso deve estar subordinado à tarefa fundamental acima. Se não estiver, você acabará sendo aclamado como um grande historiador, linguista, filósofo ou crítico da cultura, mas não como um teólogo.
4.   No cumprimento da tarefa acima, você tem a obrigação de saber argumentar. Pode parecer óbvio, mas muitos teólogos hoje perecem não ter a menor ideia de como fazer isso. Teologia é uma disciplina argumentativa e, por isso, você precisa ter um conhecimento suficiente de lógica e persuasão a fim de construir argumentos que sejam válidos, sadios e persuasivos. Na teologia, não basta demonstrar que você tem conhecimento da história, da cultura ou de outras áreas do saber.
5.   Não basta citar pessoas que concordam com você e criticar aquelas que discordam do seu ponto de vista. Você precisa saber formular um argumento em defesa daquilo que crê.
6.   Aprenda a escrever e falar de maneira clara e convincente. Os melhores teólogos são capazes de tomar um assunto complexo e explicá-lo numa linguagem simples. Nunca tente demonstrar que você é especialista numa área por meio de uma linguagem obscura e opaca.
7.   Cultive uma intensa vida devocional e ignore aqueles que o acusarem de uma falsa piedade. Ore sem cessar. Leia a Bíblia, não apenas como um texto acadêmico. Valorize todas as oportunidades de participar de cultos e reuniões de oração no seminário e aos domingos na igreja local. Dê atenção à sua “formação espiritual”.
8.   Um teólogo é essencialmente um pregador, exceto que ele se envolve ocasionalmente com assuntos mais “misteriosos” do que o pregador. Seja um bom pregador. Encontre uma maneira de fazer sua teologia falar aos corações das pessoas.  Encontre uma maneira de apresentar sua teologia de tal modo, que as pessoas ouçam a voz de Deus nela.
9.   Seja generoso com seus recursos. Gaste tempo conversando com seus alunos e aqueles que pretendem ser alunos. Doe livros e artigos. Não seja “mão fechada” no que tange a materiais com seus direitos autorais. Dê permissão para seu material ser copiado, sempre que for solicitado. Ministério em primeiro lugar, dinheiro em segundo.
10. Ao criticar outros teólogos, denominações ou movimentos, siga a ética bíblica. Não chame uma pessoa de herege precipitadamente. Não acuse pessoas com termos do tipo “outro evangelho” (aqueles que pregam  um outro evangelho estão sob a maldição de Deus).  Não destrua a reputação das pessoas por meio de uma citação equivocada, fora do contexto, ou no pior sentido possível. Seja gentil e generoso a menos que você tenha razões fortíssimas para ser severo.
11. Numa controvérsia, nunca se posicione, precipitadamente, de um lado do debate. Faça um trabalho analítico de ambas as partes. Considere estas possibilidades: a) os dois lados podem estar olhando para o mesmo assunto de perspectivas diferentes, mas não pensando de maneira diferente; b) ambos os labos podem estar despercebidamente desprezando um ponto que poderia fazê-los pensar em harmonia; c) eles estão tendo dificuldade de se comunicar um com o outro porque estão usando termos que têm sentidos múltiplos; d) pode haver uma terceira alternativa melhor do que as duas posições que estão sendo defendidas; e) ambas as opiniões na controvérsia, mesmo que genuínas, devem ser toleradas na igreja, assim como as diferenças entre vegetarianos e não vegetarianos em Rm 14.
12. Quando você tiver uma grande ideia, não espere que as pessoas a entendam imediatamente. Não tente promover esta nova ideia a ponto de criar uma facção. Não entre em rivalidade com aqueles que por acaso não vierem a apreciar sua maneira de pensar. Dialogue com eles de maneira gentil, reconhecendo que você pode estar errado e não tem a humildade de reconhecer isso.
13. Não seja impulsivamente crítico com qualquer coisa que venha de outras tradições religiosas. Seja humilde para reconhecer que outras denominações podem ter algo a lhe ensinar. Seja “ensinável” antes de começar a ensiná-los. Tire a trava dos seus olhos.
14. Esteja preparado para avaliar criticamente a sua própria tradição. É uma ilusão pensar que uma tradição religiosa tem todas as verdades ou está sempre certa. Não seja um daqueles teólogos conhecidos por tentar fazer arminianos se transformarem em calvinistas (ou vice-versa).
15. Olhe para os documentos confessionais de sua denominação com a perspectiva correta. Eles são, entre outras coisas, o fruto do trabalho de teólogos e devem ser avaliados e reformados, quando necessário, pela Palavra de Deus. Não assuma que tudo o que está nos símbolos de fé da sua tradição religiosa está decidido para sempre.
16. Não deixe que o ciúme do sucesso de um colega determine as polêmicas nas quais você se envolve, ou o lado que você toma em tais polêmicas. Há muitos que são inclinados a ser completamente críticos de igrejas com mais de cinco mil membros.
17. Não se torne conhecido como um teólogo que atira para todos os lados tentando acertar outros teólogos ou cristãos. Nossos inimigos são: satanás, o mundo e a carne.
18. Mantenha-se vigilante com respeito aos seus instintos sexuais. Mantenha distância de qualquer pornografia na internet e relacionamentos ilícitos. Teólogos não são imunes a nenhum dos pecados nos quais outras pessoas caem.
19. Seja um membro ativo na igreja local. Teólogos precisam dos meios da graça no mesmo tanto que os demais membros da igreja. Isto é especialmente verdadeiro quando você estuda em uma universidade secular ou seminário liberal. Você precisa do suporte de outros crentes para manter uma perspectiva teológica apropriada.
20. Faça seu primeiro curso de teologia num seminário que ensine a Bíblia como Palavra de Deus. Procure familiarizar-se com a teologia das Escrituras antes de se expor (se for o caso) a formas de pensamentos não bíblicas.
21. Aprenda a demonstrar apreciação pela sabedoria, até mesmo a sabedoria teológica, daqueles cristãos totalmente leigos. Não seja um daqueles teólogos que tem sempre algo negativo a dizer quando uma pessoa mais simples descreve sua caminhada com o Senhor. Frequentemente, pessoas simples como estas conhecem a Deus melhor do que você, e você precisa aprender deles, à semelhança do que fez Abraão Kuyper.
22. Não seja um daqueles teólogos que se empolga com toda e qualquer novidade em política, cultura, hermenêutica e até mesmo teologia, e pensa que devemos reconstruir toda nossa teologia para se adequar a cada tendência.
23. Tenha sempre um pé atrás com todas as “tendências” em teologia.  Quando você vir todo mundo entrando no mesmo vagão, seja feminismo, liturgia, pós-modernismo, ou qualquer outro “ismo”, este é o momento para você abrir os olhos e usar sua capacidade crítica. Não embarque em qualquer uma destas tendências antes de fazer a sua sondagem.
24. Ao mesmo tempo, não rejeite uma ideia inovadora apenas por ser inovadora. Mais importante ainda, não rejeite uma ideia simplesmente porque ela não soa como aquilo que você está acostumado a ouvir. Aprenda a discernir entre o “som de uma ideia” e aquilo que a ideia realmente diz.
25. Esteja sempre alerta para argumentos que recorrem a metáforas ou termos técnicos extra bíblicos. Não assuma que todos estes termos têm um sentido perfeitamente claro. Geralmente este não é o caso.
26. Aprenda a ser crítico daqueles que são críticos. Estudiosos liberais ou não cristãos estão propensos a errar como qualquer outro – na verdade, são mais propensos.
27. Respeite os mais velhos. Não existe nada mais prejudicial a um teólogo iniciante do que desprezar aqueles que têm atuado no campo por décadas. Discordar é cabível conquanto você reconheça a maturidade e as contribuições daqueles de quem você discorda. Tenha sempre 1Tm 5:1 no coração.
28. Teólogos iniciantes geralmente se veem como o próximo Lutero. Olhe, é muito provável que Deus não o tenha escolhido para ser o líder de uma nova reforma, como nos dias de Lutero. Mesmo se este for o caso, nunca se intitule como “o reformador”; deixe que os outros decidam se isso é realmente o que você é.
29. Decida cedo em sua carreira (após ter experimentado algumas vezes) no que você irá focar e no que não irá focar. Quando você começar a ter que considerar oportunidades, o saber quando dizer não é muito mais importante do que saber quando dizer sim.
30. Nunca perca seu senso de humor (não apele). Perder o senso de humor é perder o senso de proporção. Nada é mais importante em teologia do que o senso de proporção.

FONTE: http://www.cristaoreformado.com/2012/08/conselhos-de-john-frame-para.html Seu comentário e/ou crítica pode ajudar outros a refletir melhor sobre estes conselhos de John Frame.TRADUÇÃO E POSTAGEM ORIGINAL: Daniel Santos (http://danielsantosjr.com/)